Cachorro Não é Gente, Ora!!!


Na frente do edifício onde moramos foi providenciado um canteiro para ornamentar o ambiente.

Questão de dias atrás tiveram de acrescentar uma pequena mureta de proteção e o porteiro deu a explicação.

As senhoras que levam seus cães para defecarem (acho que o verbo cagar, apesar de tanta resistência que sofre, é melhor que defecar…) achavam uma gracinha os bichos fazerem força para o preciso (como se dizia em São Vicente do Baldim) naquele pequeno espaço e destruirem as plantas.

Construida a mureta, vieram virulentos protestos ao porteiro de plantão:

- Porque esta mureta ridícula? Vocês teem é ódio a cachorros, seus preconceituosos…

Coitados dos cães!

Querem transformá-los em gente mas esquecem que são animais irracionais que não conseguem articular um pensamento dentro das regras básicas da civilização.

Uma observação mais detalhada do que vem acontecendo com os cães mostra que eles já não apresentam aquela alegria contagiante de antes.

Tornaram-se tristes, não latem, não brincam com as pessoas, sempre conduzidos por quem parece se afirmar através de um carinho exagerado a um bicho que é bicho como qualquer outro bicho.

Bons tempos do Perrito e do Sandoval, este que apesar de sua genialidade irresponsável talvez tenha sido o primeiro a ganhar nome de gente, infelizmente.

Sandoval foi realmente um amigo da casa, apesar de todos os transtornos que promovia, seja mordendo o calcanhar dos outros, seja invadindo os ônibus atrás da Jacy e da Suzana, empregadas da casa na época.

Sandó como ficou sendo chamado até nos ajudou a cuidar dos filhos, embora o Guga tenha queimado a perna quando retirava carrapatos dele e resolveu queimá-los na gasolina.

Foi uma confusão!!!

Hoje a maioria dos cachorros são passivos, tristes, moram nos apartamentos (o que deveria ser impedido pelos condomínios) e não mostram a graça de outros tempos.

Orelhas caídas, parecem pobres coitados apesar das mordomias que lhes são oferecidas.

Certamente estou aqui cometendo uma loucura com este comentário.

Quantos e quantas irão me excomungar (acho que a nova Igreja acabou até com a excomunhão de fiéis…)

Que me excomunguem, mas não posso deixar de protestar contra essa feia liberalidade dos donos e donas de cães de acharem que eles são gente com direito de cagar na porta da casa dos outros.