A notícia que recebo de São Vicente, onde nasci, e de Baldim, que é a sede do município, é que está ocorrendo um êxodo ao contrário.
Se antes se falava em êxodo rural, agora ocorre o êxodo urbano, porque quem trabalhava na Capital está retornando para o interior ao perder o emprego na cidade grande.
Voltar para a casa paterna é sempre uma saída, embora no caso de São Vicente a coisa se complica.
Minha pequena cidade sobrevicu em função da fábrica de tecidos que a Companhia Cedro Cachoeira ali instalou no início do século passado.
Os Mascarenhas procuravam um local para implantar a indústria que idealizaram para a produção de chita e em no pequeno arraalencontraram um pioneiro que havia instalado pequena fabriqueta de tecido, algo que hoje podemos ver como coisa de louco.
Ele aproveitou um curso d’água e o canalizou para que os teares primaríssimos fossem tocados por força hidráulica.
A rústica fabriqueta acabou por formar uma mão de obra de tecelãs e tecelões, o que chamou atenção da Cedro e Cachoeira.
Tendo a mão de obra, faltava a energia elétrica para tocar a fábrica.
Pesquisas indicaram que a solução estava na Serra do Cipó.
E lá, aproveitando as águas do rio Cipó construíram a hidrelétrica que permanece ainda hoje, bem no alto da montanha, e que fornece energia para várias cidades.
A chita a ser produzida teria um trançado especial, criado pelo meu avô paterno, Tonico Ribeiro, que lhe deu a marca 3R, talvez sequência de dois trançados anteriores que ele teria criadom, por isso o número 3 seguido da letra erre de seu sobrenome (nosso, aliás).
A fábrica foi instalada com teares comprados na Inglaterra que vivia o esplendor da revolução industrial que mudou o mundo.
Tonico Ribeiro participou da compra in loco e acompanhou a odisséia para levar os teares até São Vicente.
Não havia estrada formal e o recurso foi usar o rio das Velhas que no seu curso passa por Funilândia, com as peças dos teares sendo descarregadas a uns cinco quilômetros de São Vicente para serem levadas ao destino em lombo de burros.
A Cedro, como faziam as siderúrgicas na época, construiu a fábrica e toda estrutura possível para os empregados, incluindo casas, sede para bailes e diversão, campo de futebol, piscina, etc.
Tonico Ribeiro tinha visão das coisas. Tio Juquita formou-se em farmácia em Juíz de Fora, minhas tias Mariquita e Raimunda, tornaram-se professoras e aprenderam música e tocavam piano e violão, Joãozito, meu pai, era do balacobaco e fez de tudo, chegando a ter três linhas de ônibus - mas não dá para contar a sua história fascinante neste momento.Tio Totó ficou com a fazenda na Várzea do Capim e foi um grande empreendedor na área agrícola, implantando uma enorme plantação de laranja. A fazenda tinha escola para os filhos dos empregados, com o detalhe de que Tio Totó fazia brincadeira conosco de que tinha uma criação de capetas. Segundo ele, estava ficando caro o criatório porque tinha de comprar caixas e mais caixas de alfinetinho de cabeça, a alimentação principal dos diabos.
E eu acreditava em meio às risadas dos adultos em volta.
São histórias que dão um livro, embora muita coisa esteja no “Pensando Agachado” que lancei poucos anos atrás.
Mas o que quero dizer agora é que, fechada a fábrica, houve o êxodo em direção principalmente a Belo Horizonte e Sete Lagoas e que, agora, com a crise pela qual passa o país, as pessoas estão voltando para o ninho – um espécie de refúgio às agruras maiores do desemprego e da crise econômica que assolam o Brasil.
Que essas pessoas possam aproveitar as delícias da tranquilidade que São Vicente oferece à exceção das noites de sábado quando é invadida por um bando de loucos originários de Belo Horizonte, levando carros possuidores de aparelhagem de som tocado em volume insuportável.
Coisas de um país perdido pela tragédia política que a cada diaacaba com qualquer esperança de seus cidadãos.
Se antes se falava em êxodo rural, agora ocorre o êxodo urbano, porque quem trabalhava na Capital está retornando para o interior ao perder o emprego na cidade grande.
Voltar para a casa paterna é sempre uma saída, embora no caso de São Vicente a coisa se complica.
Minha pequena cidade sobrevicu em função da fábrica de tecidos que a Companhia Cedro Cachoeira ali instalou no início do século passado.
Os Mascarenhas procuravam um local para implantar a indústria que idealizaram para a produção de chita e em no pequeno arraalencontraram um pioneiro que havia instalado pequena fabriqueta de tecido, algo que hoje podemos ver como coisa de louco.
Ele aproveitou um curso d’água e o canalizou para que os teares primaríssimos fossem tocados por força hidráulica.
A rústica fabriqueta acabou por formar uma mão de obra de tecelãs e tecelões, o que chamou atenção da Cedro e Cachoeira.
Tendo a mão de obra, faltava a energia elétrica para tocar a fábrica.
Pesquisas indicaram que a solução estava na Serra do Cipó.
E lá, aproveitando as águas do rio Cipó construíram a hidrelétrica que permanece ainda hoje, bem no alto da montanha, e que fornece energia para várias cidades.
A chita a ser produzida teria um trançado especial, criado pelo meu avô paterno, Tonico Ribeiro, que lhe deu a marca 3R, talvez sequência de dois trançados anteriores que ele teria criadom, por isso o número 3 seguido da letra erre de seu sobrenome (nosso, aliás).
A fábrica foi instalada com teares comprados na Inglaterra que vivia o esplendor da revolução industrial que mudou o mundo.
Tonico Ribeiro participou da compra in loco e acompanhou a odisséia para levar os teares até São Vicente.
Não havia estrada formal e o recurso foi usar o rio das Velhas que no seu curso passa por Funilândia, com as peças dos teares sendo descarregadas a uns cinco quilômetros de São Vicente para serem levadas ao destino em lombo de burros.
A Cedro, como faziam as siderúrgicas na época, construiu a fábrica e toda estrutura possível para os empregados, incluindo casas, sede para bailes e diversão, campo de futebol, piscina, etc.
Tonico Ribeiro tinha visão das coisas. Tio Juquita formou-se em farmácia em Juíz de Fora, minhas tias Mariquita e Raimunda, tornaram-se professoras e aprenderam música e tocavam piano e violão, Joãozito, meu pai, era do balacobaco e fez de tudo, chegando a ter três linhas de ônibus - mas não dá para contar a sua história fascinante neste momento.Tio Totó ficou com a fazenda na Várzea do Capim e foi um grande empreendedor na área agrícola, implantando uma enorme plantação de laranja. A fazenda tinha escola para os filhos dos empregados, com o detalhe de que Tio Totó fazia brincadeira conosco de que tinha uma criação de capetas. Segundo ele, estava ficando caro o criatório porque tinha de comprar caixas e mais caixas de alfinetinho de cabeça, a alimentação principal dos diabos.
E eu acreditava em meio às risadas dos adultos em volta.
São histórias que dão um livro, embora muita coisa esteja no “Pensando Agachado” que lancei poucos anos atrás.
Mas o que quero dizer agora é que, fechada a fábrica, houve o êxodo em direção principalmente a Belo Horizonte e Sete Lagoas e que, agora, com a crise pela qual passa o país, as pessoas estão voltando para o ninho – um espécie de refúgio às agruras maiores do desemprego e da crise econômica que assolam o Brasil.
Que essas pessoas possam aproveitar as delícias da tranquilidade que São Vicente oferece à exceção das noites de sábado quando é invadida por um bando de loucos originários de Belo Horizonte, levando carros possuidores de aparelhagem de som tocado em volume insuportável.
Coisas de um país perdido pela tragédia política que a cada diaacaba com qualquer esperança de seus cidadãos.