Assim Caminha a Humanidade...

Depois de bem uns 15 anos, me deu a louca e fui ao bar onde se encontram atualmente os participantes da roda do "6 e 1" que antes acontecia num bar do edifício Maleta de frente para a avenida Augusto de Lima.

Chamava-se "6 e 1" porque era a hora em que, religiosamente o fundador da roda, o jornalista e advogado Rodrigues Crepaldi, símbolo do "copy desk" nervoso que soltava palavrões horrorosos que ecoavam pela redação da sucursal mineira da "Última Hora" quando lhe caía às mãos texto de repórter que tivesse escrito alguma bobagem.

O jornal carioca havia sido fundado por Samuel Wainer e obteve grande sucesso pelo apoio a Juscelino Kubitschek quando na presidência da República, e também pela diagramação inovadora, pela posição nacionalista e pelos grandes colaboradores entre eles Nélson Rodrigues, Stanislaw Ponte Preta e Paulo Francis e outros.

Depois de trabalhar no jornal, Crepaldi formou-se em advocacia e montou um escritório num prédio a um quarteirão e meio do edifício Maleta.

Tornou-se folclórica a reunião com grande número de admiradores aos quais nos incluímos para bater o sagrado papo de início de noite e rir das rabugices do velho Crepaldi.

Sistemático, Crepaldi ia para casa às 7:01 e a gente continuava o papo até mais tarde falando das mulheres, do futebol, da política e da literatura, temas que nos embriagavam mais do que a cerveja servida pelo esperto Miltinho, garçom famoso do "Pelicano", o verdadeiro nome do "6 e 1".

A roda se dissolveu com o nascimento do PT e os novos integrantes que entraram em cena.

Chegou a um ponto em que Wellington e eu pegamos o boné porque o ambiente havia ficado irrespirável diante de tanto radicalismo esquerdista e uma adoração fanática ao novo ídolo da esquerda, o LILS.

Nunca mais voltamos lá e poucos anos atrás ficamos sabendo que o Pelicano fechara. Será por causa dos petistas?

Preferimos não investigar, até que ficamos sabendo que o "6 e1", agora sem a presença do Dr. Crepaldi, encontrou pouso em outro canto, com novos personagens aliados aos antigos, mas com a mesma ideologia petralha.

Parece que me deu a louca noite dessas em que eu fora levar minha mulher na casa de uma amiga, onde a deixei, e resolvi passar no novo "6 e 1" que, fiquei sabendo, começa bem depois do expediente dos escritórios onde trabalham os componentes da nova turma, todos engravatados em seus ternos de talhe perfeito, tendo como companhia muitas moças também vindas do trabalho.

Fui bem recebido como uma espécie de tiranossauro rex saído de filme de Steve Spielberg, que eles devem adorar mas acham um monstro a promover a alienação capitalista no mundo.

Fiquei pouco tempo no bar, mesmo porque a dor do osso occipital atingido pelo câncer não me permitiu permanecer ali por mais tempo.

É lógico que evitei falar do caos que vive o país petralha e percebi que não gostaram das minhas observações politicamente incorretas, das minhas ironias sobre a mediocridade que assola o país e, assim, logo me despedi daquele clima nitidamente de fossa política da era da presid@nta Dilmandioca.

Nos velhos tempos pelo menos a gente discutia a fossa dos filmes de Bergman e a nossa própria fossa para conseguir um lugar ao sol na literatura, no jornalismo ou nas lides jurídicas.

Peguei literalmente o meu boné diante de todo aquele vazio e dei no pé pensando em como era bacana o "6 e 1" dos sonhos literários, dos filmes de Fellini, do Paulo Francis nos transmitindo cultura e de nossa luta por um lugar ao sol que não fosse uma mamata pública, tudo sem ter de tolerar o atual anacronismo político que faz parte da insuportável realidade do país apatetado pelos petralhas e comunistas dissimulados.