O Grito Que Não Quer Calar

No tempo em que jogava na “Várzea”, como se chamava o futebol em campos de terra, eu defendia a camisa do Honved Brasileiro, curiosamente nome que eu sugeri na reunião de fundação do clube, entusiasmado que estava pela fama do que Nélson Rodrigues chamava de “Escrete Húngaro do Armando Nogeira”, em homenagem ao outro grande cronista defensor do futebol arte do Brasil.

Jogar na Várzea me fez conhecer campos de times amadores espalhados pela cidade e cidades vizinhas.

A gente ia na carroceria do caminhão Chevrolet do pai do Nem, outro fundador do Honved Brasileiro, na casa de quem aconteciam as reuniões para decidir sobre o destino do time, os próximos jogos, cobrança de mensalidade – isto mesmo, a gente pagava para jogar, apesar de nos considerarmos craques.

Mas futebol amador era (ou é) assim, na base de todos juntos pra frente Brasil.

A gente pagava para jogar mas valia a pena de tantas gozeiras que aconteciam em cima do caminhão do seu Zito.

As gozeiras continuavam durante os jogos, principalmente quando um perna-de-pau dava uma furada ou batia cabeça com um colega do time.

Nesses casos, o personagem não escapava dos gritos que vinham da torcida geralmente amontoada em cima de um morrinho que todo campinho de várzea tinha:

- Ô fulano, pede para cagar e sai…

O grito impiedoso caberia perfeitamente hoje quando essa turma de incompetentes só faz cagada na política brasileira, embora não fique bem uma frase tão dura ser dirigida a políticos graduados safados e corruptos, mas que dá vontade dá.