Papo-Cabeça - Crônica da Semana "Estado de Minas" 20/08/15

“Não, eu não quero saber o que o mundo será daqui a mil anos” – ele disse para a amiga que afirmava ter certeza de que, no próximo milênio, o homem chegará a outros planetas, quando estarão resolvidos todos os problemas vividos na atualidade.

“A paz reinará entre os seres humanos e não haverá mais guerras” – a amiga insistiu em sua tese.

“Eu estou preocupado é com o agora, sim, e com o futuro dos meus netos e netas” – disse ele para ela que, em seguida, retrucou:

“Não se preocupe porque é um processo natural de evolução da humanidade e nós temos de entender isso”.

A irritação dele começou a extrapolar em gestos e palavras ácidas:

“Você não quer é falar do momento político/institucional do país, parecendo acreditar na falácia da Pátria Educadora e fugir de temas como corrupção desabrida através de sofismas para explicar o inexplicável contra o clamor que ecoa das ruas, ora”.

“Não adianta você se irritar – ela disse – porque está escrito nas estrelas que há um longo caminho a percorrer como acontece nas missões interplanetárias em andamento”.

“A longo prazo estaremos mortos, como disse Maynard Keynes na metade do século passado”- ele argumentou.

E ela:“Devemos nos preparar devagar para os próximos mil anos”.

“Não adianta investir em educação se não há cadeias produtivas e mercadorias finais mais complexas, como acaba de dizer em entrevista César Hidalgo, físico do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusset). É bom entender isso fincando o pé na realidade do que apenas sonhar e ficar fora do tempo” – finalizou, e ela achou melhor parar porque ia a um encontro sobre transcentalidade.

“A transcentalidade pode ser boa para você mas não se esqueça da realidade, viu?”- ele encerrou o papo-cabeça.