Sem Desculpa - Crônica da Semana "Estado de Minas" 14/08/15

Chegou ao edifício onde mora ali pelas nove da noite e dirigiu o carro à vaga a que tem direito pelas normas do condomínio.

A vaga estava ocupada.

Nunca havia ocorrido algo parecido nos dez anos em que mora no prédio e pensou que ocorrera um engano.

Foi ao senhor da portaria que deduziu ser obra de visitante que estava na festa de aniversário em apartamento do primeiro andar de onde podia-se ouvir o coro desafinado do “Parabéns para você”.

Ninguém atendeu ao chamado do interfone por causa do barulho da festa e o funcionário decidiu ir lá para saber se algum convidado ocupava a vaga pois acreditava que outro condômino não faria aquilo sem pedir autorização.

O tempo passava e o dono da vaga esperava sem conseguir conter a raiva, ainda mais que estava em emergência intestinal e não deixaria o carro parado de forma incorreta no estacionamento.

Eis que pela altura dos vinte minutos do segundo tempo surge uma senhora com chave na mão para retirar o carro dela.

Como se fosse coisa normal, ela apenas disse:

- É que ao entrar no estacionamento eu estava ao celular e não prestei atenção em qual vaga me autorizaram estacionar.

Como se nada de anormal tivesse ocorrido, não se dignou a dar uma palavra de desculpa pela erro cometido.

O dono da vaga evitou palavrões que tinha na ponta da língua por não receber um pedido formal de desculpas e educadamente disse:

“Dirigir carro falando ao celular impede quem dirige o carro de dar importância ao que é necessário fazer: ocupar a vaga certa”.

A mulher não deu a mínima. E ele supôs que 1) ela não entendeu o que ele disse; 2) pedir desculpas é coisa fora de moda.

Como revelou depois, guardou os palavrões para si e deduziu que Freud e o complexo de culpa foram jogados na lixeira da História.