“Os ipês-amarelos perderam a graça, a Ilha dos Amores virou, de repente, a “Ilha dos dissabores”, e o espelho-d’água deixou de refletir a beleza da paisagem candidata a patrimônio da humanidade. No lugar desses encantos, entram máscaras cirúrgicas, dedos tampando o nariz, janelas fechadas e muita irritação”.
O texto inicial, que antes se chamava “lead” no jornalismo do meu tempo, retrata a tristeza em que se transformou a Lagoa da Pampulha, ainda mais com a foto de pessoas com máscaras para tampar os narizes diante do fedor ali exalado.
Na verdade, não adianta falar sobre o assunto porque faz tempo que se denuncía as atrocidades cometidas contra o principal cenário da Capital mineira.
Modestamente falei dos absurdos da poluição fecal, inclusive na Lagoa da Pampulha, no meu livro “Pensando agachado”, na verdade uma memória do que vivi e aprendi com meu pai, Joãozito, memória de minha terra, São Vicente (distrito de Baldim) e de uma espécie de retrato ao mesmo tempo trágico e irônico sobre essa coisa que todo mundo acha um crime falar que é a bosta.
Ainda mais após o surgimento dessa merda chamada “politicamente correto”, que tenta apagar a realidade das coisas, há um escamoteamento dos dramas provocados pela irresponsabilidade política dos dirigentes do país em relação ao produto gerado pelo gênero humano e animal que, para disfarçar, fala-se em fezes, cocô, etc.
Mas não há como escapar da realidade: bosta é bosta em qualquer lugar do mundo seja chamando de “shit” ou de “mérde” e pior é a cegueira em nosso país sobre as consequências da dita cuja.
Talvez seja tarde demais, mas se as administrações públicas não atacarem o problema com seriedade e responsabilidade em pouco tempo teremos de respirar com máscaras e encontrar alternativas para purificação das águas infestadas desde as nascentes pela poluição.
Com o nível dos eleitos nas últimas eleições podemos imaginar o que passarão nossos netos diante de toda merda que o Brasil produz no sentido amplo da questão.