Felicidade Compulsória - Crônica da Semana "Estado de Minas" 10/09/2015

Nesses dias atuais de tanto progresso tecnológico e humano entre aspas, pode-se prever que o mundo - e particularmente o Brasil - parece condenado a esquecer o passado, mesmo o mais recente, em nome da consolidação de uma ideologia que pregará a obrigatoriedade de um glorioso futuro para os países e as pessoas.

Pode-se prever o aprimoramento da comunicação para amenizar ainda mais as consequências danosas de catástrofes e de escândalos políticos.

Talvez a implantação de novas definições sobre o que sejam ética e moral possam ocorrer em breve quando todos os homens forem barbudos e todas as mulheres se vestirem de calças pretas e tiverem cabelos alisados.

A felicidade será obrigatória para os que ousem sofrer dores na alma através da proibição de que alguém possa apresentar sintomas como melancolia, angústia, desânimo, tristeza e "dor-de-corno", expressões e sentimentos que terão exclusão do léxico e das cabeças humanas.

Dá para prever que indivíduos resistentes à nova ordem passarão por duras punições como confinamento em suas próprias casas, obrigados a ver ininterruptamente os infindáveis jogos do campeonato brasileiro, mesmo os que terão vencedores antecipadamente determinados pela entidade que comanda o esporte bretão no país.

Imposição inclemente haverá às famílias com renda de até dois salários mínimos para que acolham famílias de refugiados do caos que assola países da África e do Oriente.

Que cada um "se vire" para oferecer trabalho a essas pessoas mesmo em tempo de desemprego, além de educação, comida, instruções sobre a Língua Portuguesa e sobre a "modernidade" que se tenta implantar no país que tem como marca do marketing político a travessia do nada para lugar nenhum.

Assim, seremos convencidos de que, apesar de pobres mortais, temos o poder supremo para enfrentar os desafios do novo mundo colorido pelas artimanhas da tecnologia e da felicidade compulsória.

Amém!