A Marca - Crônica "Estado de Minas" - 31/12/2015

O anúncio da chegada do primeiro filho lhe deu uma alegria tão grande que resolveu, entre outras providências, usar a bermuda que deixava exposta a tatuagem implantada tempos atrás na canela de sua perna esquerda.

Considerou um ato de coragem, embora temesse que voltassem as recriminações como as que recebia na tenra juventude por sua ousadia.

Naquela época, a tatuagem não era aceita por muita gente e quem a implantou na sua perna foi um desenhista certamente pioneiro na cidade na arte de decorar a pele humana com desenhos então chamados de psicodélicos.

Considera até cruel a dificuldade, principalmente de pessoas mais velhas, em aceitar a coragem de quem deseja “eternizar” uma tatoo em uma parte do corpo, por interpretarem como um exagero imperdoável de quem quer romper com todos preceitos morais e éticos da civilização.

E as críticas chegavam a absurdos próprios às feitas a marginais da sociedade e a políticos corruptos.

Como não havia como apagar a tatuagem, ele parou de usar bermudas no calor e de frequentar o clube onde era sócio para jogar “peladas” e cair na piscina.

Hoje é qualificado profissional em sua área de trabalho e toma todo cuidado para evitar que, por descuido, apareça parte da velha tatuagem na perna. Sabe que trata-se de precaução exagerada pois, afinal, as tatuagem passaram até a serem vistas como ornamento quase imprecindível da nova geração e, por isso, parecem não causarem tanto espanto como antes.

Mas a marca ficou tão firme em sua mente como em sua perna.