O Dia em que Paulo Moura Morreu - Correspondente Internacional

http://www.jobim.org/paulomoura/
Sabe quando você acorda e não consegue levantar? Como se existisse uma força gravitacional adicional te puxando para baixo? Foi assim que eu me senti no dia em que Paulo Moura morreu em 12 de Julho de 2010.

O fato em si é algo esperado. Até que me provem o contrário, todos morreremos, mais cedo ou mais tarde, com ou sem 97 virgens nos esperando no paraíso. Vinicius de Moraes cantou que sem papel passado e autenticado por Deus dizendo que existe outra vida... Melhor aproveitar a que temos. E foi isso que Paulo Moura fez tão bem.

Paulo Moura produziu uma variedade de musicas, ritmos e cores. Tenho minhas faixas favoritas e as ouço toda vez que alguma coisa não anda bem. Paulo me acalma, me deixa com o pensamento leve. Sem pressa. Sem arestas. Ele toca como se arte fosse algo para simples mortais. Como se não necessitasse estudo continuo e dedicação absoluta. A clarineta do Paulo além de tudo me faz lembrar do meu Pai. Ele que venera João tem seus dias de Paulo. Também me recordo do meu tio que dizem foi quem "descobriu" o disco "Confusão Urbana, Suburbana e Rural" na época que morava em Fortaleza.

Onde está o Paulo Moura no mundo atual já que os Discos/CDs acabaram? Sim, podemos encontrá-lo no Apple Music, Spotify, Pandora e em outros provedores ilimitados de música. Podemos acessar e ouvi praticamente qualquer musica dele via celulares. Com os novos serviços online acabou a necessidade de pirataria. Podemos selecionar uma quantidade infinita de títulos, compositores e interpretes.


Porém, ai porém...vivemos um novo dilema. Como fazer Paulo Moura aparecer e ser o escolhido a ser ouvido? Como fazer uma jovem de 15 anos clicar no botão de seu celular de cover Pink no nome "Dia de comício" ou quem sabe "Mistura e Manda"? Se apenas para escolher entre Beatles ou Rolling Stones a coisa já anda difícil? E as escolhas não param por aí para chegar no link "Espinha de Bacalhau". Até este ponto muita coisa precisa acontecer.

Já vi o mesmo efeito com usuários do Netflix. Horas e mais horas apenas navegando pela vasta biblioteca de filmes, sem conseguir decidir qual clicar. Acesso ilimitado. Será esse o real final dos tempos? 

Vivemos em um mundo onde temos que escolher em torno de 3,000 ou mais coisas irrelevantes por dia até conseguirmos ir para a cama repousar a cabeça, dormir e sonhar com mais escolhas a serem feitas.

O Sr. gostaria de comer uma salada? Sim. Qual tipo? Com Rúcula? "Quem foi o FDP que levou a rúcula para a cozinha?" Sim. Com Rúcula. Qual molho? Blue Cheese? Pode ser. Com balsâmico? Não. Sem balsâmico. Água para beber. Não Coca. Diet? Não. Gelo? Sim. Limão? Não. E de prato principal...? E assim vamos escolhendo.... Sem saber porque escolhemos.

Excelentes propagandas subliminares nos "ajudam" nas escolhas. Nos levam a selecionar o Gatorade de frutas silvestres vermelhas de dentro de uma geladeira de um dos milhares de postos de gasolina onde se encontram outras 50 bebidas energéticas "suadas" de frio.

Bom mesmo era quando tínhamos poucas escolhas. Paulo Moura ou Rafael Rabello?

Te pergunto. Você já ouviu Paulo Moura? Já ligou o App do Spotify e o nome dele apareceu do nada em 1o lugar? Paulo Moura "Sonhos Tropicais #1". Duvido.

Essa é a pergunta que não consigo responder. Me parece que nos dias de hoje "obrigar" a um adolescente ouvir Paulo Moura seria considerado por muitos juízes e juízas tortura grave e caso de prisão inafiançável.

Volte das cinzas querido Paulo. Toque sua clarineta com o amor e sabor que só você sabia. Nos deixe esperando o final da última nota para ai sim, realizarmos a mais importante das escolhas...

Clicar na tecla "repetir" ou "próxima" para mais uma de suas músicas magicas aparecer da infinita "nuvem virtual" para alegrar nossos ouvidos desafinados.