Retorno Impossível - Crônica "Estado de Minas" - 02/12/2015

Ele chegou para passar uns dias com pais e irmãs, reencontrar amigos, primos, tias e tios e tanta gente que não via fazia tempo.

Promoveu almoços com conhecidos de longa data, recordou lances de uma "pelada" em que marcou um "gol de bicicleta", foi homenageado em encontro com colegas do CPOR da arma de Artilharia, maravilhou-se com pinturas do avô saudoso em exposição de artistas mineiros e rodou a cidade em busca de marcos sentimentais guardados na memória quando criança e jovem.

Pensou que entraria em estado letárgico de saudades sonhando num jeito, quem sabe, de voltar apesar de tudo de estranho que acontece na terra descoberta por Cabral que ele acompanha nos avançados recursos de comunicação em que se fez expert trabalhando mundo afora..

Tudo seguia bem que teve de obter cópias de seu histórico universitário para atender protocolos do país onde mora e trabalha.

Como por encanto, os momentos de recordações, saudade e contatos com sua gente foram atingidos por uma espécie de balde imaginário de água fria.

Primeiro pensou que num passe de mágica estivesse vivendo cena do livro "O Processo", de Franz Kafka, referência maior de até onde pode chegar a ditadura da burocracia levada ao extremo, seja em razão da má vontade dos atendentes ou da aplicação extremada da postura politicamente correta que domina o país ou do despreparo de quem sempre acha que tem o direito a seu lado.

Sentiu um travo na garganta e vontade de soltar uma série inimaginável de palavrões mas desistiu. Seria pior porque achou que poderia até ser levado à polícia.

Então, resignou-se a se apegar momentaneamente ao velho bonde do tempo que insiste em trafegar na sua memória.

Afinal, faltava só mais um dia para voltar para onde mora e trabalha.

Contentou-se em curtir as boas recordações que reviu na breve estada no país que ele, na juventude, sonhava que um dia tomaria jeito.