Um Sonho de Amor - Crônica "Estado de Minas" - 17/12/2015

O tempo se exaure sem que a gente perceba. Como uma formulação dessa pode ter sentido se segundos, minutos, horas, dias, meses e anos permanecem na toada que dura séculos? Ou melhor, milênios.

Ela pensava nisso empurrada por um turbilhão de providências a ser tomadas no dia. Por ironia, concluiu que não teria tempo suficiente para cumprir os rituais comuns a todos os dias.

Se tudo – ou quase tudo – pode ser resolvido num clique que liga computador, tablete ou celular, por que a ansiedade diante da dúvida que invadiu sua cabeça assim que o sol raiou?

Mulher atualizada, com todo arsenal tecnológico moderno em mãos, não poderia sucumbir à dúvida que a atacou logo ao amanhecer.

Tinha tudo anotado na agenda eletrônica e no caderninho especial do qual não conseguia se desvencilhar para anotar as providências que tinha de tomar para não perder a hora de fazer as coisas.

Por quê a angústia, palavra que tirara do seu dicionário há tempos?

Planejamento era com ela para ter todas obrigações em dia e não correr risco de se atrasar em encontros ou deixar para trás contas a pagar ou de mandar um beijo e um queijo a uma pessoa amiga.

Aquele turbilhão de dúvidas logo pela manhã a deixou perturbada, mas em seguida procurou resgatar a calma e pensar sobre o problema sem a tensão própria dos novos tempos.

A meditação foi colocando suas idéias nos eixos. Até que passou a pensar seriamente no amor.

As ideias borbulhavam quando chegou ao espelho para se aprontar e pensou que amor não pode acontecer na correria, na explosão de sentimentos e de palavras. Concluiu que amor tem que ser sem pressa, olho no olho, mas com palavras ao vento como num poema para provocar arrepios.

Passava da hora de ir para a luta mas não podia deixar para trás seu sonho de um amor sem estresse, calmo, bonito. E pensou que vencer o tempo não pode se tornar uma batalha sem fim.