Bairro Antigo - Crônica "Estado de Minas" - 07/01/2016

Sabe-se lá o que lhe deu na cabeça, mas certamente foi boa decisão mudar a rotina para, na contramão do tempo, ver como andam as coisas no bairro de sua infância e adolescência.

Seria pelo menos uma forma de descansar da visão de prédios envidraçados e ruas repletas de carros e gente. E com seu carro supermoderno foi seguindo pelas ruas antigas de casas quase todas ainda como eram antes, marcadas pela simplicidade.

Incomodou-se com as ruas agora tão vazias de gente e se perguntava por onde andaria a turma que fazia uma confusão dos diabos em peladas nos lotes vagos que não existem mais.

As bolas de borracha ou de couro caíam nas casas vizinhas, quebrando pés de couve e cebolinha, para fúria das senhoras que tinham de parar o trabalho nos tanques de roupa ou na máquina de costura para devolvê-las ao campinho do lote vago.

Lá estava a casa comprada por seu pai com tanta dificuldade, hoje apresentando sinais de abandono, mas nada de cachorros vira-latas que latiam o tempo todo promovendo confusão.

Sentiu falta dos botequins com geladeiras velhas e barulhentas, que se enchiam de fregueses no fim do dia e início da noite.

Não teria resposta sobre onde foram parar as serenatas em alta madrugads nem das horas dançantes em casas de família com mães de olho nos rapazes perniciosos dançando com as mocinhas em flor.

Não sabia explicar aquele saudosismo repentino se o tempo cuida furiosamente de queimar da memória o arquivo de fatos e rosto.

Mas considerou boa catarse rever casas com trepadeiras cobrindo a cal dos muros e que, no entorno da cidade agitada por trabalho, diversão e absurdos, os bairros antigos mantêm aquela calma que ajuda sua gente a tocar a vida em tempos tão acelerados.