![]() |
Fernando de Castro Lobo |
Ela continuava com sua beleza natural, apesar da idade que avançava, e vestia uma roupa clássica, ou melhor, sóbria.
Aproximou-se um pouco sem jeito, sem chamá-la pelo nome.
Preferiu andar mais um pouco de modo que ela o visse.
Será que o reconheceria?
Sim, apesar de um pouco assustada com a presença dele, ela abriu um recatado sorriso ao vê-lo depois de tantos anos, desde que decidiram romper aquele amor meio atormentado, meio prazeroso, que viveram por bom tempo e que chegou ao fim por causa de algo tão bobo…
O sinal de trânsito abriu para que ela atravessasse a avenida mas preferiu dar a atenção que ele aguardava ter.
Parecia que ambos, no fundo, concordavam que o tempo cuida de apagar máguas e ressentimentos.
E assim, meio sem jeito para pedir que voltassem a se abrigar sobre o mesmo teto, ele não conseguia articular um argumento com base na realidade, pois sempre fora um sonhador, mestre em querer coisas impossíveis.
A aceleração da emoção dele diminuía diante da cordialidade fria em que ela se mantinha.
Como a conversa não prosperava, ela tomou a iniciativa de dizer que foi bom encontrá-lo com aparência tão boa.
A tarde ameaçava uma chuva de verão, dessas que vêm e logo se vão, tema de antigo samba de Fernando Lobo que dizia: “podemos ser amigos simplesmente, coisas do amor nunca mais…”
E ele a viu sumir no turbilhão da avenida enquanto uma pequena lágrima lhe escorria pelo rosto.
http://www.collectors.com.br/CS05/cs05_01.shtml