State of The Union 2016 - Correspondente Internacional

1913 State of the Union, Woodrow Wilson
Em menos de um ano um novo presidente estará residindo na Casa Branca. Obama black power deverá estar de volta a sua Chicago. Várias retrospectivas sobre sua gestão estarão sendo preparadas nas editorias de notícia de todo mundo. Exaltarão suas realizações e seus erros. Suas vitorias e derrotas. O que terá deixado como legado.

E um dos seus legados será com certeza ter trazido de voltar para o endereço mais famoso do mundo “1600 Pennsylvania Av.” a qualidade de um grande escritor e orador. 


No inicio de cada novo ano legislativo, o presidente realiza um discurso chamado “State of The Union”. No centro das duas casas, congresso e senado, ao lado de chefes militares e juízes do supremo tribunal, todos ouvem e participam do discurso que listará as principais diretrizes do presidente para o próximo ano.

O “State of the Union” é uma tradição democrática que os americanos do hemisfério norte que a realizam desde o inicio de sua democracia. Entre 1790 e 1946 foi conhecido como “Annual Message”. Apartir de 1947 o nome mudou para “State of The Union”.

O primeiro a usar a oportunidade para se dirigir aos congressistas foi obviamente o 1o Presidente - George Washington. Em 1790 “The American Cincinnatus”, como era conhecido, foi até o congresso em sua própria carruagem em uma fria manhã de Janeiro, para ler uma mensagem que continha entre outras coisas o desejo de um bom ano de trabalho para os congressistas. Recomendações sobre a importância da lisura no exercício do cargo público no recém criado país. Declarar que gostaria de iniciar a criação de estradas, que precisavam cuidar devidamente do exercito e que precisavam definir o novo sistema de “pesos e medidas” da união. Não deixou de enfatizar que o grande objetivo de todos deveria ser cuidar dos interesses do povo o que resumiu em uma frase: “Eu devo exercer uma cooperação continua com vocês (congressistas), na agradável porém árdua tarefa de assegurar aos nossos cidadãos os desejos que eles têm por direito esperar de nós (homens públicos)”.

Algumas semanas atras Barack Obama realizou seu 8o e último “State of The Union". Iniciou com pequenas piadas dizendo que não demoraria muito este ano. Relembrou ex-presidentes, importantes personalidades da história e definitivamente destilou com a categoria de sempre talvez seu melhor discurso.

Em 2009 quando Obama subiu no pódio do congresso a maior economia do mundo estava em recessão profunda. Tinha uma crise imobiliária gigante. Desemprego na casa de 15%, o dollar estava fraco perante outras moedas. A gasolina subia. Em 2011 o preço nas bombas americanas chegou a $4,00 o galão (hoje está abaixo de $1,80). Tinha milhares de militares atuando em diversos países do mundo. Problemas raciais afloravam com velocidade. Possuía a maior divida interna e o maior deficit fiscal do planeta. O congresso se mostrava ineficiente e dividido. Bloqueava a aprovação das contas do ano e um risco fiscal de proporções incalculáveis quase aconteceu. Possuía um dos sistemas de saúde mais cruéis e caros dentre os países do 1o mundo. Para piorar tinha que reerguer a alto-estima e a vontade de vencer dos até então inabaláveis Yankees.

As coisas começaram a mudar durante sua inauguração onde milhares viajaram para vê-lo em Washington DC e comemorar a possível mudança aos brados de “Now we can”. Durante os próximos anos Obama ganhou Nobel da Paz. Se transformou em ícone cultural. Hoje é visto com o mais “cool” dos presidentes. Como muitos lembram diariamente, sim, ele não resolveu todos os problemas dos EUA. Tão pouco resolveu os problemas do mundo. Mas o cara fez e aconteceu nestes últimos anos.

Esta foi a tônica do “State of The Union de 2016”. Dividido em poucos tópicos, Obama iniciou o discurso descrevendo suas ações contra terroristas. Lembrou de vingança final enterrando no mar o temido Ossama. Destacou o ressurgimento da economia. Seu foco em tecnologia e inovação. Novos empregos criados e vinculados a fontes limpas de energia. 


Para muitos, em 2008, o poder americano tinha acabado, como uma Roma depois do Imperador Romulus Augustus. Obama mostrou que os EUA estão de volta e que a maior potência global continua ditando as regras.

Barack continuou o discurso com calma e resolução como fez e vai continuar a fazer até o final do mandato. 
Lembrou como mudou o sistema de saúde, incluiu milhões que não tinham direito a cobertura, para desespero dos Republicanos sem coração. Diminuiu a inflação que crescia. Manteve juros baixos. Incentivando a melhoria da infra-estrutura diminuiu a taxa de desemprego que hoje está abaixo de 7%. Promoveu a criação e diversificação de novas fontes de energias limpas. Diminuiu as emissões de gases nos EUA e que vai lutar contra os efeitos das mudanças climáticas. No campo jurídico indicou a primeira juíza latina para a corte suprema do país e luta para a diminuição da proporção de negros nas prisões americanas.

Teve tempo para elegantemente desmoralizar o racista e inconsequente Trump. Coisa que nenhum debate ainda foi capaz de fazer. “Uma política melhor não significa que todos tem que concordar com tudo. Mas democracia requer confiança entre seus cidadãos.” Foi claro em dizer que é possível melhorar o pais sem deixar a sempre retrograda direita americana dominar o cenário politico e econômico como aconteceu na era Bush.

Durante sua influência e liderança vimos a China mostrar sinais de cansaço e começar a derrapar nas suas mentiras comunistas. A Russia está sofrendo nas mãos de um megalomaníaco ex-KGB. A Europa passa por crises Gregas e problemas sociais imigratórios de difícil e complexas opções. Os aclamados BRICs, que um dia foram a salvação da lavoura, voltaram a serem novamente apenas países emergentes mergulhados em problemas e vícios que infelizmente deixaram de resolver enquanto as vacas estavam bem gordinhas.



Não vimos durante os 7 anos de mandato nada negativo sobre sua vida pessoal ou integridade pública. Apenas bons exemplos de gestor, pai e marido. Corrupções e favorecimentos não fizeram parte da sua agenda. Erros existiram e não foram poucos. E ele ressaltou no discurso o que ele considerou o maior deles. Disse que infelizmente não conseguiu diminuir as diferenças e a distância entre republicanos e democratas. Com isso gerou novamente uma atitude de positivismo e esperança para o proximo presidente. Que otimismo só vem do trabalho e da dedicação. E que as mudanças são produzidas com projetos bem planejados e bem executados.

Obama não corrigiu problemas sérios no setor financeiro americano. Não melhorou a regulação de wall street nem diminuiu a pressão de lobistas no governo. Os mais ricos ficaram ainda mais ricos e a classe média diminuiu. Mas Obama sabia que com a perda da maioria no congresso e senado seria limitado em realizar grandes reformas.

“Nós o povo, assim inicia nossa constituição…” e foi assim que Obama iniciou a última parte do discurso. Desejou uma política menos agressiva e com menos favorecimento a grandes cooperações. Que os votos de todos tenham o mesmo peso e que as liberdades individuais se mantenham. “Eu acredito em mudança porque eu acredito em vocês, povo americano. E por isso hoje estou aqui mais confiante como nunca que o Estado e Nossa União é forte.”


“God bless the United States of America” terminou ovacionado por todos.