Há dias o correspondente internacional deste blog enviou-me este vídeo sobre a estréia de um drone português, com a observação que tal fato daria uma crônica. Na minha resposta, coloquei algumas ponderações e disse mais, que tarefa tão edificante caberia ao titular do blog. No entanto, tentaria escrever, caso me fosse delegada a tarefa. Isso posto, vamos a ela.
Não sei o que aconteceu com a navegação portuguesa, tanto marítima quanto aérea. A navegaçao marítima teve seus dias de glória e pode-se afirmar que nenhum país da Europa deteve mais conhecimento náutico de longo curso do que Portugal e sua Escola de Sagres, sabe-se hoje que nunca existiu.
O conhecimento náutico português baseado na astronomia foi adquirido no século XV, através da troca de informações entre pilotos de embarcações e prática nos mares, na cabotagem e no aprendizado da orientação com o auxílio do astrolábio. Assim como a Escola de Sagres foi uma lenda, apesar do Príncipe D.Henrique ter construído uma vila na região, grande parte dos fatos que nos foram narrado, se ensinados na escola, também são falsos. Tudo se deveu à experiência adquirida na indústria náutica, no aperfeiçoamento das caravelas adaptadas para a navegação de longo curso e a empreitadas capitaneadas pela Coroa Portuguesa, que fez dos descobrimentos um promissor ramo de negócio, pois era de inteiro conhecimento do Rei e dos navegadores, as riquezas do Oriente, sobretudo das Índias.
Nada mais falacioso do que a teoria do Descobrimento do Brasil, do acaso de Cabral, do desvio da rota. Tanto que os lusos sempre narram os fatos como "achamento". Nada pode ser descoberto a partir do conhecimento de sua existência. No entanto, é público e provado que Portugal detinha na época as melhores embarcações, todo o conhecimento técnico e prático disponível, os melhores pilotos e mais ainda: foi com os lusitanos que o genovês Colombo e o Florentino Américo Vespúcio aprenderam técnicas de navegação. Sempre é bom lembrar dos versos de Fernando Pessoa, que disse " navegar é preciso, viver não é preciso". Navegar exige precisão, a vida só tem dois fatos incontestáveis: nascer e morrer.
Todo esse "intróito" foi feito para comprovar a capacidade dos portugueses, que também na navegação aérea foram precisos e para tal, basta lembrar a proeza dos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que cruzaram o Atlântico em um hidroavião na primeira metade do século passado, vindo de Portugal ao Brasil, de forma pioneira, ligando por via aérea os dois países.
A primeira, foi o naufrágio da réplica da Caravela de Cabral, construída a imagem e semelhança de uma nau portuguesa do século XVI, feita especialmente para as comemorações dos Quinhentos anos do Descobrimento do Brasil, naufragada na viagem de Salvador a Porto Seguro. A nave simplesmente afundou e talvez ainda encontra-se soçobrada na região. Um fiasco. Os construtores de barcos do século vinte não conseguiram fazer uma caravela que navegasse numa viagem dez vezes menor do que a de Cabral. Acidente vergonhoso, além de manifestações contrarias as comemorações com choques da polícia da Bahia com os índios. No dia 22 de abril de 2000, teve de bombas de efeito moral à pedrada e flechadas, noticiadas em todo o mondo. Um vexame.
O outro fato que diz respeito à navegação aeroespacial é trágico. Em que pese toda a competência do ITA, do INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Aeroespaciais, no dia 22 de agosto de 2003, o Veículo Lançador de Satélites construído no Brasil explodiu três dias antes do lançamento na Base de Alcântara, no Maranhão. Matou vinte e um técnicos de alta qualidade, todos civis, a fina flor da área no Brasil. Como disse anteriormente, o drone português é uma piada e não feriu ninguém, exceto o orgulho lusitano. As caravelas portuguesas navegaram e ligaram quatro continentes, a saber, Europa, Ásia, África e America. A nau construída quinhentos anos depois, simplesmente não conseguiu navegar, o lançador de foguetes explodiu e matou vinte e um técnicos. Do balanço, depreende-se que ainda temos muito o que aprender com os portugueses.
Em tempo: Sobre a base de Alcantara, circula uma teoria conspiratória urdida como sempre por Tio Sam. Mais fácil ter sido urdida pelo clã Sarney, os verdadeiros donos do Maranhão.
Urtigão (desde 1943)