Na pele do Urtigão eu não tenho procuração para defender ninguém. Não conheço, nada devo a eles e tampouco sou eleitor. Felizmente minha idade me permite não ser obrigado a votar. Aliás, comungo da tese de que o voto no Brasil não é obrigatório. A obrigação para os maiores de dezoito anos e menores de setenta é de comparecer perante a Justiça Eleitoral. Comparecendo, vota se quiser. Não querendo, vota em branco ou anula e está quites com a Justiça. No entanto, tenho o direito de criticar tudo o que considero fora dos padrões da boa política, da ética entre adversários e o respeito às biografias, notadamente no que tange à vida pessoal.
Na eleição de 1989, Fernando Collor jogou sujo contra Lula. Descobriu Miriam Cordeiro (infeliz coincidência) e a colocou na campanha. Se surtiu efeito, não sabemos, mas o fato dela revelar que Lula queria que ela abortasse, certamente influiu no resultado da refrega e desestabilizou Luis Inácio na véspera do último debate. Deu no que deu: Collor eleito e um desastre total no Brasil que com muito custo se refez de tudo aquilo que o Caçador de Marajás e seu exército de canalhas fizeram com o País e com os brasileiros. Lula recobrou sua dignidade (se é que algum dia teve), foi eleito presidente e hoje é amigo do peito de Collor. Coisas de políticos sem ética e vergonha na cara.
Lula enfrenta no atual momento seu inferno astral. Todo dia uma nova denúncia, todos os amigos presos e a perspectiva de que tenha o mesmo destino, se sobre ele pesar as mãos limpas do juiz Sérgio Moro. Manietado, calado, inerte e sem meios de se defender pessoalmente, se utiliza de mãos alheias para retirar as castanhas da brasa. Responsável pela eleição de Dilma Rousseff, tão desastrada ou mais do que Collor, o Barão de Munchausen de Garanhuns se retrai, mas não sem antes promover uma guerra suja contra o seu antecessor, Fernando Henrique.
Eis que entra em cena outra Mirian, que não é cordeiro mas Dutra, (sobrenome de presidente honesto), estudada, vivendo no exterior e ex-colaboradora da Rede Globo na Europa. Ao contrário da outra Miriam, teve um filho com Fernando Henrique, legalmente reconhecido, mesmo depois de dois exames de DNA provarem o contrário. Reconhecido e sustentado, querido pelo pai, do qual recebeu boa educação, carinho e ao que parece, salvo melhor juízo, amigos, pois do filho Tomás FHC já recebeu solidariedade e a sua reprovação ao fato da mãe ter alardeado romance entre ela e o ex-presidente.
A prática do adultério, que na época era crime previsto no Código de Direito Civil, infelizmente é prática comum no Brasil, desde os tempos de colônia. Getulio Vargas tinha uma amante a quem chamava de "bem amada", Juscelino também teve, Fernando Collor inclusive, como Lula e Fernando Henrique, com filhos fora do casamento. Não estou comparando os três. Não são sinônimos e têm caráter diferente. Tampouco cabe analisar o comportamento perante as esposas legítimas, muito diferentes em postura, formação cultural e ética. Cabe ressaltar que se Fernando Henrique fez remessas ilegais de dinheiro para o exterior, por intermédio da Brasif de Jonas Barcelos, deve ser punido pela Receita pois neste caso cometeu crime fiscal. Recursos para tal ele possui e possuía na época. Nunca os escondeu nem sua fazenda e sua sociedade com Jovelino Mineiro. A existência do filho Tomaz era de conhecimento público, só não era alardeada talvez para resguardar o filho e também o pai, que seria eleito presidente do Brasil. É estranho a jornalista Miriam Dutra aparecer agora, justo no momento em que Lula está no olho do furacão. Estranho trazer a público fatos passados há mais de vinte anos. Nada disso exime Fernando Henrique de pagar por erros e crimes que porventura tenha cometido.
No entanto, fica muito difícil comparar a situação dos dois ex-presidentes. Lula, quando engravidou Miriam Cordeiro, era um pobre diabo e talvez tenha proposto o aborto por dificuldades financeiras. Lurian, fruto do romance extra-conjugal, foi reconhecida pelo pai e foi morar em Paris, amparada por um dos donos da Andrade Gutierrez. Tomás, mesmo não sendo filho legítimo de Fernando Henrique mora em Barcelona e estuda nos USA onde já faz mestrado. Não existe empreiteira no caso. Fica somente uma dúvida, que creio nunca será sanada: qual o cachê de Míriam Cordeiro e qual o de Miriam Dutra. As duas negarão de pés juntos que nada receberam. Entretanto fica o benefício da dúvida. Quanto receberam e se foi um bom negócio
Notas:
1) Encontrei com um eletricista que trabalhou comigo nos anos 80, na manutenção de um prédio em Belo Horizonte. Figura notável, competente e resoluto, dono de sabedoria digna dos personagens de Guimarães Rosa, com nome sonoro: Joaquim Tameirão. Ao ver-me ficou feliz e perguntou se podíamos prosear alguns minutos. Assenti com gosto pois sempre gostei da prosa dele, de matuto esperto que teve de se virar na cidade. Conversa vai, conversa vem, perguntei o que achava do governo atual.
Resposta do Tameirao: “doutor, a conversa da Dilma é peido de mula, pouco regula!!!!
2) O Brasil é grande produtor de jabuticabas, fruta que só existe entre nós. Deixando de lado a delícia da fruta, lamento jabuticabas tais como o "kit de primeiros socorros" para os carros, extintor de incêndio ABC e outras. A última é formidável para não dizer um palavrão. Aos deputados foi dada uma "janela de infidelidade partidária que lhes permite trocar de partido sem ser punido dentro de um prazo de 30 dias.
Um mimo.
Urtigão (desde 1943)