Utopia - Ana Gabriela

​Domingo é dia de ir pra rua, e eu vou. Vou porque desejo mudança e a continuidade da Operação Lava Jato, sem interferências, sem vazamentos, sem perseguição ou proteção política. Mas não espero que apenas Lula e todos os canalhas do PT sejam punidos; quero também punição para os canalhas do PMDB, do PSDB, do DEM, PROS, PSC etc etc etc. Assim como não me agrada a saída da presidente antecipadamente, sem podermos escolher quem vai entrar no lugar dela. Sei que estes desejos não são consenso entre muitos que lotarão as ruas do país, no dia 13, pois o momento é marcado por sentimentos extremos, sem lugar para divergências, mesmo que se esteja, supostamente, do mesmo lado.
 

A polarização política que se estabeleceu no país tem sido alimentada diariamente por movimentos contra e pró governo. Grupos que incitam o ódio mútuo, usando todos os meios de comunicação disponíveis. A intolerância ganhou proporções perigosas, cegando a todos que defendem algum dos lados, levantando um muro entre nós brasileiros. Muro este erguido pela propaganda petista e sua fábrica de mentiras e maldades. Uma estratégia suja, cruel, danosa, que tem por objetivo disseminar o ódio pela desqualificação e ofensa pessoais. Agride-se não os políticos, mas as pessoas, os cidadãos indignados, chamados com todo desprezo de “coxinhas”, “golpistas”, como podemos ver no post compartilhado entre os petistas, nas redes sociais:


Dessa forma, os agredidos caem na cilada e acabam aceitando o jogo proposto, usando as mesmas armas dos agressores “petelhos”, baixando cada vez mais o nível da discussão.
 

No meu modesto entendimento, pessoas são mais importantes que ideologias. Afinal, é legítimo defender e acreditar em projetos políticos, em pessoas públicas que desejamos que nos representem (ao meu ver, nenhum hoje, de nenhum partido me representa), mas sem perder o respeito pelo outro, desqualificando-o por suas convicções, sejam elas quais forem.
 

Por isso, apesar de ir no domingo à manifestação, me preocupo com o teor dos protestos, faixas, cartazes e palavras de ordem que serão variados. Pretendo não fechar os olhos para conteúdos desrespeitosos, que pregam bandeiras com as quais eu não concordo, na difícil tentativa de manter o equilíbrio entre o respeito ao próximo e o politicamente correto. Tem até uma postagem compartilhada nas redes sociais, bem irônica, mas que merece ser considerada, com “instruções” para não fazermos feio no dia 13, nem darmos motivos para os petistas usarem contra o movimento:




Eu quero sim ver o PT fora do poder, mas também quero que a limpeza passe por todos os partidos e por políticos que, apesar de se posicionarem contrários ao governo, são tão terríveis e temíveis quanto os petistas, como Eduardo Cunha, Marina Silva, Bolsonaro, Marcos Feliciano e a perigosa bancada evangélica - presente em todas as legendas -, e tantos outros que têm mais telhado de vidro do que méritos. Lutar pela mudança apoiados por políticos oportunistas e sem credibilidade pode fazer o tiro sair pela culatra.
 

E acredito que não estou sozinha, por mais que este pensamento pareça ingênuo, contraditório ou até covarde. Tenho observado que no meio de tanta polaridade, há um grupo latente, formado por pessoas de bem, e estão em busca de mudança e justiça, mas não estão dispostas a defender ou encobrir as safadezas de apenas um dos lados. Gente que, como eu, ancora suas esperanças naqueles políticos que sobreviverem a uma lavagem geral, sem proteção ou arranjos, e acredita que não adianta tirar um tumor e deixar o espaço livre para outro crescer.

Será que tal possibilidade é viável ou é uma utopia, incompatível com a natureza da Política, estando nós condenados a sempre decidir por um corrupto preferido?
 

Espero que os protestos de domingo sejam representativos, limpos, bem humorados e livres de violência, preconceitos e desrespeito.