Na política existem os "empelicados", os de muita sorte e os azarados. Não são poucos, mas a história que passo a narrar é deveras única e singular.
Em primeiro lugar, vamos citar alguns "empelicados". Itamar Franco, aliás um bom homem um bom presidente, se elegeu prefeito de Juíz de Fora por pura sorte, fez-se senador num lance de fazer inveja a qualquer ganhador de boa loteria, perdeu a eleição para o governo de Minas, filiou-se a um partido nanico e por ele foi candidato a vice-presidente da República e de lá, tornou-se presidente, mesmo a contragosto, a princípio.
Em Minas diziam que Tancredo Neves era milagroso e citavam vários milagres. Fez de Hélio Garcia governador do Estado, de um prefeito de Patos de Minas (esqueci o nome) secretário e ministro da agricultura e depois senador, e a culminância de todas as sortes -
Sarney de Ribamar, presidente da república por cinco anos. Mais sorte impossível.
Em compensação, tivemos muitos "pé frio". Magalhães Pinto morreu sonhando com a presidência , Aureliano Chaves, um bom e tosco homem, não foi presidente por birra de Figueiredo. Jarbas Passarinho, por ser coronel e Orlando Geisel, ministro do exército e general de quatro estrelas ter dito claramente: não bato continência para coronel. Se indicado presidente, faria o " durao" Orlando bater-lhe continência .Afinal, presidente é superior a general de quatro estrelas .
Tanto tinha Tancredo de milagroso, quanto tinha de "pé frio". Politico inexperiente, se achegou a Getúlio na Revolução de Trinta. Havia um parentesco entre a família Neves e os Dorneles, o que ajudou na aproximação. Deputado por Minas Gerais, que junto com Capanema (Gustavo) , Benedito Valadares e Francisco Campos, foram fiéis servidores do estancieiro de São Borja. No governo democrático de Getúlio, Tancredo chegou ao prestígioso cargo de ministro da Justiça, em um período em que este cargo era ocupado por homens ilustres. Hoje, se fizermos um retrospecto, só veremos nulidades no segundo ministério mais antigo do Brasil.
Nesta função, Tancredo acompanhou o velho até o triste é glorioso fim. Da última e fatídica reunião no Catete, no enterro em SãoBorja e a herdar a caneta, que reza a lenda, escreveu a carta testamento. Que não escreveu, todos sabemos, mas que assinou, certamente sim. Um símbolo. Candidato derrotado ao governo de Minas em sessenta, falido e sem emprego,
Tancredo se vê oito meses depois, elevado a condição de Primeiro Ministro da República Parlamentarista do Brasil. Durou pouco mas, foi o primeiro. É dele essa glória que ninguém tira.
De sessenta e quatro pra frente, Tancredo experimenta a oposição.Tempos duros, nos quais brilhava Magalhães Pinto. Esteve para ser cassado várias vezes. Inteligente, preparado, de hábitos morigerados e poucos amigos, Tancredo ajudou a moldar e colocar em prática a abertura de Ernesto Geisel. Quando lhe surge a grande chance, não recusa a montar no belo cavalo arriado que lhe foi apresentado. Montou e, ao contrário de Aureliano, não caiu do cavalo. Foi eleito por via indireta, Presidente da República. Uma apoteose. Como não era "empelicado", a sorte lhe sorriu madrastra. Operado na véspera da posse, a primeira de um civil em vinte e um anos morre depois de lenta agonia, no dia 21 de abril de 1985.
O maior de seus milagres. Sarney toma posse e governa aos trancos e barrancos por cinco anos.
É o bilhete premiado: Foi perdido por Aécio Neves da Cunha, neto de Tancredo e de Simão da Cunha, naquela noite no fatídico Hospital de Base .Era o "enfant gatê" do avô presidente. Vinte e quatro anos, uma bela carreira pela frente, que certamente teria fim no Alvorada. Quase chegou lá em 2014, perdendo o pleito para uma refinada quadrilha.
Sorte ou azar. Acredito que teve sorte. O País está no fundo do poço e dizem que depois do poço ainda tem um alçapão. Se é empelicado eu não sei. Mas presidente da República, candidato no qual votei várias vezes (sem muita convicção), nunca será. Quem viver verá.
Urtigão (desde 1943)
Em primeiro lugar, vamos citar alguns "empelicados". Itamar Franco, aliás um bom homem um bom presidente, se elegeu prefeito de Juíz de Fora por pura sorte, fez-se senador num lance de fazer inveja a qualquer ganhador de boa loteria, perdeu a eleição para o governo de Minas, filiou-se a um partido nanico e por ele foi candidato a vice-presidente da República e de lá, tornou-se presidente, mesmo a contragosto, a princípio.
Em Minas diziam que Tancredo Neves era milagroso e citavam vários milagres. Fez de Hélio Garcia governador do Estado, de um prefeito de Patos de Minas (esqueci o nome) secretário e ministro da agricultura e depois senador, e a culminância de todas as sortes -
Sarney de Ribamar, presidente da república por cinco anos. Mais sorte impossível.
Em compensação, tivemos muitos "pé frio". Magalhães Pinto morreu sonhando com a presidência , Aureliano Chaves, um bom e tosco homem, não foi presidente por birra de Figueiredo. Jarbas Passarinho, por ser coronel e Orlando Geisel, ministro do exército e general de quatro estrelas ter dito claramente: não bato continência para coronel. Se indicado presidente, faria o " durao" Orlando bater-lhe continência .Afinal, presidente é superior a general de quatro estrelas .
Tanto tinha Tancredo de milagroso, quanto tinha de "pé frio". Politico inexperiente, se achegou a Getúlio na Revolução de Trinta. Havia um parentesco entre a família Neves e os Dorneles, o que ajudou na aproximação. Deputado por Minas Gerais, que junto com Capanema (Gustavo) , Benedito Valadares e Francisco Campos, foram fiéis servidores do estancieiro de São Borja. No governo democrático de Getúlio, Tancredo chegou ao prestígioso cargo de ministro da Justiça, em um período em que este cargo era ocupado por homens ilustres. Hoje, se fizermos um retrospecto, só veremos nulidades no segundo ministério mais antigo do Brasil.
Nesta função, Tancredo acompanhou o velho até o triste é glorioso fim. Da última e fatídica reunião no Catete, no enterro em SãoBorja e a herdar a caneta, que reza a lenda, escreveu a carta testamento. Que não escreveu, todos sabemos, mas que assinou, certamente sim. Um símbolo. Candidato derrotado ao governo de Minas em sessenta, falido e sem emprego,
Tancredo se vê oito meses depois, elevado a condição de Primeiro Ministro da República Parlamentarista do Brasil. Durou pouco mas, foi o primeiro. É dele essa glória que ninguém tira.
De sessenta e quatro pra frente, Tancredo experimenta a oposição.Tempos duros, nos quais brilhava Magalhães Pinto. Esteve para ser cassado várias vezes. Inteligente, preparado, de hábitos morigerados e poucos amigos, Tancredo ajudou a moldar e colocar em prática a abertura de Ernesto Geisel. Quando lhe surge a grande chance, não recusa a montar no belo cavalo arriado que lhe foi apresentado. Montou e, ao contrário de Aureliano, não caiu do cavalo. Foi eleito por via indireta, Presidente da República. Uma apoteose. Como não era "empelicado", a sorte lhe sorriu madrastra. Operado na véspera da posse, a primeira de um civil em vinte e um anos morre depois de lenta agonia, no dia 21 de abril de 1985.
O maior de seus milagres. Sarney toma posse e governa aos trancos e barrancos por cinco anos.
É o bilhete premiado: Foi perdido por Aécio Neves da Cunha, neto de Tancredo e de Simão da Cunha, naquela noite no fatídico Hospital de Base .Era o "enfant gatê" do avô presidente. Vinte e quatro anos, uma bela carreira pela frente, que certamente teria fim no Alvorada. Quase chegou lá em 2014, perdendo o pleito para uma refinada quadrilha.
Sorte ou azar. Acredito que teve sorte. O País está no fundo do poço e dizem que depois do poço ainda tem um alçapão. Se é empelicado eu não sei. Mas presidente da República, candidato no qual votei várias vezes (sem muita convicção), nunca será. Quem viver verá.
Urtigão (desde 1943)