O Confessionário - Crônica "Estado de Minas" 26/05/16

Precisava ter muita coragem para, alí ajoelhado, sussurrar com voz embargada e expor a miséria individual de pecados variados, embora repetidos mensalmente.

Significava uma espécie de tortura comum aos tempos medievais que, mesmo na modernidade, parece ainda não ter sido totalmente apagada.

Como é triste remoer memórias do velho confessionário e como doía soltar verdades para ganhar a absolvição.

Em compensação, ao colocar os pés na rua da realidade a alma parecia em festa e o coração a gargalhar…

As confissões, no fundo, nos deixavam diminuidos, fragéis, tontos como se fôssemos os maiores canalhas do mundo, torturados como se tivéssemos passado pelo velho choque elétrico dos primórdios da psiquiatria.

Até que veio a psicanálise, principalmente a de grupo, que também exigia coragem para revelar diante dos outros o que causava vergonha até em santo de pedra.

De todo jeito é sempre demorado o expurgo dos males da alma.

Assemelha-se ao tortuoso trabalho do caminhão que apanha nosso lixo diário na porta dos edifícios depois do entardecer para que não fique atravancando o trânsito alucinado do dia que já acabou.

Ainda bem que o tempo passou e hoje podemos assistir a revolução dos sistemas de produção e dos avanços da tecnologia.

Ao fim e ao cabo, o objetivo é colocar o mundo em novo patamar e reduzir o lixo moral à insignificância, se possível bem depressa para abrir novos horizontes aos humanos racionais e de bom coração.

Só que é bom ficar com o pé atrás pois de boas intenções, como dizem, o inferno está repleto.

Embora assegurem que lá nas profundas já se pode contar com avançada aparelhagem de ar condicionado.