Urtigão e o Estado Caloteiro

Diz a Bíblia que Deus fez o mundo em seis dias e no sétimo descansou. Prova cabal de que até o Padrão Eterno merece descanso.

A partir da constatação do descanso de Deus, vamos aos fatos. A Operação Lava-jato, fato mais relevante acontecido na justiça do Brasil, também conhecido como país da injustiça, mostra-se irreversível. Doa a que doer, ela irá até o fim e vai punir um sem número de políticos, empresários, burocratas do serviço público, cabos eleitorais, lobistas e outros que ao longo de muitos anos se acostumaram a viver às custas da "viúva".

Já que começamos citando a Bíblia, que Deus proteja Sérgio Moro, os procuradores da força-tarefa, a Polícia Federal e os funcionários da Receita, envolvidos na abençoada Lava-jato…

Estamos sob a vigência de um governo dito provisório, com toda a tendência de tornar-se permanente.

De minha insignificância, tomo a liberdade de propor aos governos, federal, estaduais e municipais, que se tornem bons, deixando de lado o hábito criminoso de não pagar o que deve.

Estamos em um bom caminho com Sérgio Moro. Nada impede que os burocratas honestos iniciem a campanha para terminar com a secular fama de Estado mau pagador. Os exemplos na História são vários. Num deles, narra-se o fato de o Governo da Colônia ter contratado Domingos Jorge Velho II para destruir com tropas o Quilombo dos Palmares.

Em troca, deveria receber sesmarias na região da Serra da Barriga, como paga de seus serviços. Verdade ou não, os livros de história contam que o bandeirante ficou sem parte de do combinado. Para quitar a dívida, contrataram um de seus filhos para construir o caminho entre Rio de Janeiro e a cidade que hoje chama-se Juiz de Fora. Consta que houve aí também, dificuldades para receber o pagamento. Hábito secular de mau pagador.

Roberto Pompeu de Toledo, em seu livro " A Capital da Solidão", que narra a história de São Paulo do início da colonização até o princípio da Civilização do Café, conta um fato curioso.

A São Paulo de Piratininga era uma cidade muito pobre. Quando da visita de um governador geral, apurou-se que no povoado havia somente uma cama. Essa cama foi alugada para servir ao governador geral em sua visita, pois um dignatário do Reino não poderia dormir em rede e tampouco no chão. O aluguel não foi pago, a visita usufruiu do móvel e os responsáveis não devolviam o precioso é raro bem. O dono mandou buscá-la a força e segundo consta, nunca recebeu o dinheiro.

É o Brasil mau pagador.

Receber uma dívida do Governo, em qualquer uma de suas instâncias é um processo digno de Kafka. Em primeiro lugar, para vender ao mau pagador (governo) é o vendedor que tem de demonstrar e provar a sua idoneidade. Feito isso, o governo compra. Depois, o vendedor tem de provar novamente que cumpriu o prometido e novamente provar por documentos a sua honestidade. Daí a botar a mão na grana, outro calvário. Por este motivo, os governos compram mal e pagam caro. O vendedor embute no preço, todos os gastos com burocracia, cartórios, certidões e eventuais e costumeiros atrasos. Tarefa hercúlea, capaz de causar enfarte em gente honesta.

Se recebeu, ponha as mãos para o céu. O calote acontece com frequência, sobretudo com as prefeituras do interior. Mover ação na justiça contra o governo é desesperador. Por lei, ele é obrigado a recorrer em todas as instâncias. Se tiver fôlego, caixa e paciência, no final do litígio se ganhar o cobrador receberá em precatório. Traduzindo: devo não nego, pagarei quando puder.

Deixemos Sérgio Moro e sua brava equipe descansar e não levar-lhes novas preocupações.

Deixemos para os burocratas do Planejamento, instituir o Estado Bom Pagador. Tal medida trará benefícios enormes. O Governo vai atrair bons fornecedores, vai poder comprar melhor, por preços menores e com fornecedores honestos e cumpridores de prazos.

Experimentem e comprovem.


Notas
1) A cada dia que passa a imprensa traz notícias ruins para o Governador de Minas. Tem um tal de Bené, ex-amigo que andou botando a boca no trombone e narrando fatos desabonadores a respeito de Fernando Pimentel.

Coloca nas mesmas histórias a sua jovem esposa, aquela que foi Secretária de Estado do Trabalho e Bem Estar Social somente nas páginas do Minas Gerais.

Pimentel assumiu o governo com pompa e circunstância, condecorou João Pedro Stédille (pour épater les bourgeois) e conseguiu para seu currículo o título de "Homem sem Visão " concedido pela revista Veja. Outros títulos virão e podem abreviar a carreira do promissor político que tinha intenções de chegar a Presidência da República.

2) Dias atrás estive com um amigo, homem lido corrido e viajado que disse-me que Minas era mesmo a Vanguarda do Atraso, conforme noticiado neste blog. Segundo esse amigo, Minas estava atrasada até na corrupção. Não por falta de vontade de meter as mãos no dinheiro público. Pura falta de competência.

Urtigão ( desde 1943)