Tenho um pressentimento. Daqui a alguns anos, a norma correta da Língua estará perdida para sempre. Não falo em norma culta, essa já relegada aos baús de velharias. Basta dizer que a imprensa de um modo geral, escandalizou-se com a utilização de uma mesóclise pelo Presidente Michel Temer.
Escândalo nacional, alardeado e discutido à exaustão por algo que soaria tão corriqueiro nos meus tempos de faculdade. Enfim, se vivemos sob a ditadura dos manuais de redação e de modismos vários, tudo escandaliza, desde que esteja em dissonância com o dia-a-dia da Língua das redações.
Se fossem só os manuais de redação e as normas dos veículos de comunicação já seria uma benção. Acontece que temos para nós azucrinar os modismos que se incorporam à língua e levam tempo a se desgrudarem. São cracas do vernáculo, difíceis de desgrudarem tal qual as suas parentes marítimas.
Há alguns anos vivemos uma onda de "a nível de". Surgiu do dia para a noite e quase se torna uma forma sofisticada de falar. Uma cafonice sem tamanho. Custou a desaparecer.
De uns tempos para cá, por obra e graça do ministro Barroso, do STF, passamos a viver a ditadura " do ponto fora da curva" e outras baboseiras, que se incorporaram ao falar diário.
Usar a expressão, bem como a famigerada "sair da zona de conforto" se tornaram quase unânimes. Usá-las, mesmo que fora do contexto (outra expressão) era demonstração de linguajar moderno e bem recebido em boas rodas.
Detesto o "posso ajudar" herdado do Inglês e usado rotineiramente. Faz parte do treinamento “padrão Sebrae", que objetiva dar aos empregados e serviçais boas maneiras.
Trata-se de um padrão tão elevado ao ponto de considerarem o coloquial bom dia, assim como, com licença, por favor, obrigado e volte sempre, medida padrão de bons modos. A que ponto chegamos: padrões corriqueiros de educação se tornaram algo incomum, diferencial capaz de merecer normas ISO para uma empresa.
Uma nova leva de modismos está arribando no Brasil. De todas elas, tenho total ojeriza por um certo "empoderamento".
Incorporam, traduzindo ao pé da letra, uma palavra da língua inglesa e lá vai ela, ser "droite" na Língua. Se o cultuado poeta usou "gauche" porque não posso usar o "droite" para azucrinar o empoderamento do linguajar pseudo-chique?
E pensar que se assustaram tanto com uma ínfima mesóclise usada pelo Presidente. Que venham as mesoclises e outras figuras de linguagem. Adeus aos modismos.
Notas:
Uma pena não termos mais Pedro Nava, um dos maiores memorialistas que o Brasil conheceu. Médico de formação, tornou-se escritor já bem velho. Se o tivéssemos entre nós, ele teria um riquíssimo material para trabalhar. O baú de ossos deixado de herança pelo PT e assemelhados será tarefa para muitos anos de trabalho. Precisaremos de legistas, anatomistas e até paleontólogos. É esqueleto a mais não poder (uma das obras primas de Pedro Nava tinha por título "Baú de Ossos"). Vale a dica.
Estou com saudades de José Dirceu de Oliveira e Silva, João Vaccari Neto, Delúbio Soares, João Santanna, Mônica Moura e outros menos cotados. Sou capaz de organizar uma campanha do agasalho para protegê-los do frio de Curitiba. Lá faz frio para gringo nenhum botar defeito tomar banho de manhã bem cedo, na bica em Curitiba é tortura pra chinês nenhum botar defeito. A falta de juízo dá nisso.
Do alto de meus setenta e dois anos fico pensando se essa turma de "lutadores pela democracia" tivessem obtido êxito em 1964. Imaginem o tamanho da "obrada" que nos deixariam de herança. Eram da minha idade naquela época e tinham m... na cabeça como eu tinha, Guevara idem, Danny Le Rouge e outros revolucionários de cinquenta anos atrás.
Se com treze anos, já mais velhos, conseguiram esse "furdunço", imaginem com sexo, droga e rock and roll.
Deus é de fato brasileiro.
Urtigão (desde 1943)
Se fossem só os manuais de redação e as normas dos veículos de comunicação já seria uma benção. Acontece que temos para nós azucrinar os modismos que se incorporam à língua e levam tempo a se desgrudarem. São cracas do vernáculo, difíceis de desgrudarem tal qual as suas parentes marítimas.
Há alguns anos vivemos uma onda de "a nível de". Surgiu do dia para a noite e quase se torna uma forma sofisticada de falar. Uma cafonice sem tamanho. Custou a desaparecer.
De uns tempos para cá, por obra e graça do ministro Barroso, do STF, passamos a viver a ditadura " do ponto fora da curva" e outras baboseiras, que se incorporaram ao falar diário.
Usar a expressão, bem como a famigerada "sair da zona de conforto" se tornaram quase unânimes. Usá-las, mesmo que fora do contexto (outra expressão) era demonstração de linguajar moderno e bem recebido em boas rodas.
Detesto o "posso ajudar" herdado do Inglês e usado rotineiramente. Faz parte do treinamento “padrão Sebrae", que objetiva dar aos empregados e serviçais boas maneiras.
Trata-se de um padrão tão elevado ao ponto de considerarem o coloquial bom dia, assim como, com licença, por favor, obrigado e volte sempre, medida padrão de bons modos. A que ponto chegamos: padrões corriqueiros de educação se tornaram algo incomum, diferencial capaz de merecer normas ISO para uma empresa.
Uma nova leva de modismos está arribando no Brasil. De todas elas, tenho total ojeriza por um certo "empoderamento".
Incorporam, traduzindo ao pé da letra, uma palavra da língua inglesa e lá vai ela, ser "droite" na Língua. Se o cultuado poeta usou "gauche" porque não posso usar o "droite" para azucrinar o empoderamento do linguajar pseudo-chique?
E pensar que se assustaram tanto com uma ínfima mesóclise usada pelo Presidente. Que venham as mesoclises e outras figuras de linguagem. Adeus aos modismos.
Notas:
Uma pena não termos mais Pedro Nava, um dos maiores memorialistas que o Brasil conheceu. Médico de formação, tornou-se escritor já bem velho. Se o tivéssemos entre nós, ele teria um riquíssimo material para trabalhar. O baú de ossos deixado de herança pelo PT e assemelhados será tarefa para muitos anos de trabalho. Precisaremos de legistas, anatomistas e até paleontólogos. É esqueleto a mais não poder (uma das obras primas de Pedro Nava tinha por título "Baú de Ossos"). Vale a dica.
Estou com saudades de José Dirceu de Oliveira e Silva, João Vaccari Neto, Delúbio Soares, João Santanna, Mônica Moura e outros menos cotados. Sou capaz de organizar uma campanha do agasalho para protegê-los do frio de Curitiba. Lá faz frio para gringo nenhum botar defeito tomar banho de manhã bem cedo, na bica em Curitiba é tortura pra chinês nenhum botar defeito. A falta de juízo dá nisso.
Do alto de meus setenta e dois anos fico pensando se essa turma de "lutadores pela democracia" tivessem obtido êxito em 1964. Imaginem o tamanho da "obrada" que nos deixariam de herança. Eram da minha idade naquela época e tinham m... na cabeça como eu tinha, Guevara idem, Danny Le Rouge e outros revolucionários de cinquenta anos atrás.
Se com treze anos, já mais velhos, conseguiram esse "furdunço", imaginem com sexo, droga e rock and roll.
Deus é de fato brasileiro.
Urtigão (desde 1943)