Urtigão e as Olimpíadas no Rio de Janeiro


Estamos a menos de dois meses das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Seria um fato notável se não restassem tantas incertezas sobre a real finalidade das competições e se não pairassem tantas suspeitas acerca da façanha brasileira de realizar evento de tamanha envergadura em terras brasileiras.

A memória do Brasil é muito fraca. Quase ninguém se lembra que um dos capitães do time brasileiro que foi a Copenhague disputar a indicação foi o senhor Eike Batista, o mais famoso ex-maior bilionário do País. Junto com ele, lá estavam Lula, o prefeito Eduardo Paes, Carlos Arthur Nuzmann e outros menos cotados. Já vivíamos a euforia de uma segunda copa do mundo e só nos faltavam os Jogos Olímpicos, a cereja do bolo que iria carimbar de forma definitiva o Brasil grande que zombava da crise internacional e surfava na onda com o nome de marolinha.

Grande vitória do país tropical, que ganhava as capas das grandes revistas econômicas, alçado à condição de potência emergente, capaz de ditar regras sobre economia para as maiores nações do mundo.

Uma pena que durasse tão pouco. Talvez não dure nem o prazer de sediar os certames, pois as notícias ruins não param de vir à tona e teimam em prosseguir "Ad aeternum".

As faturas referentes aos estádios da copa ainda não apareceram de todo. Serão contas para serem pagas por muitas gerações e acompanharão nossos netos e bisnetos.

As obras do chamado "legado" não foram feitas e as que começaram ficaram incompletas.

São metrôs inexistentes, corredores exclusivos de ônibus com pouca serventia e a mais nova obra, o VLT do Rio de Janeiro, nome sofisticado para bonde, veículo conhecido no Brasil desde o começo do século XX, teima em não funcionar direito, desafiando os engenheiros de hoje que não conseguem pôr para andar um veículo que chegou a ser menosprezado, sinônimo até de coisa ultrapassada, em suma, "um bonde".

Uma cidade com péssimos níveis de segurança, a política das UPPs, totalmente superada, desafiada dia e noite pela bandidagem. Assaltos a qualquer hora do dia ou da noite, tiroteios, balas perdidas e uma política de segurança pública que já se mostrou ineficaz.

Total falta de assistência médica até para cuidados elementares. Hospitais sucateados sem pessoal no trabalho, pacientes amontoados em enfermarias e corredores. Obras inacabadas ou nem começadas. Projetos sem finalidade, corrupção em todos os níveis e em todas as instâncias do poder público. Dinheiro escasso, tomado emprestado a juros extorsívos sendo gasto sem piedade, ajudando a enriquecer políticos inconseqüentes, despreparados e venais. Gente sem envergadura. Sem espinha dorsal, tal qual o prefeito do Rio De Janeiro, que chegou a pedir perdão a D. Marisa Letícia, quando Lula era o todo poderoso de plantão, para poder desfrutar do apoio do Estadista de Galinheiro, para se eleger prefeito do Rio.

Esse tipo de gente é que cuida da Cidade Olímpica. E lá estará, com pompa na companhia de dignatários estrangeiros, a maquiar a tosca realidade brasileira, País onde há cada três anos morrem mais de cento e cinquenta mil pessoas assassinadas. Uma Hiroshima e meia a cada três anos em um Brasil que já é o segundo consumidor mundial de cocaína.

Notas:

1) No Rio de Janeiro as obras do Porto Maravilha deram uma nova cara a uma parte da cidade que há muitos anos estava totalmente degradada. Apesar do sumiço de seis vigas de aço de alto valor que desapareceram na demolição do antigo elevado, a obra se não for entregue à bandidagem terá o seu valor e poderá agregar valor a áreas que estavam totalmente esquecidas. Vamos dar um crédito aos cariocas e ver como funciona.

2) Pelo montante do dinheiro já revelado nos acordos de delação, pôde-se avaliar, pelo menos de maneira modesta, o tamanho da corrupção no Brasil. E mais ainda: o quanto de dinheiro que nos últimos treze anos andou nas mãos das empreiteiras e dos políticos. E ainda, o tanto que a Petrobras poderia ser lucrativa se fosse bem administrada e não se roubasse tanto. Fica difícil de acreditar que a empresa ainda funcione.

Urtigão (desde 1943)