Urtigão: O País da Meia Entrada

O Brasil precisa acabar com privilégios. Eles são tantos e tão variados que é quase impossível enumerá-los. Um dos mais evidentes é o carro oficial. São tantos e tão variados que acabar com eles seria uma medida saneadora. Mas não é o bastante.

Que tal acabar com o auxílio moradia para deputados estaduais e federais, verba para paletó, vale refeição para ministros, carro oficial para desembargador, verba para aquisição de livros para a magistratura, vale farmácia na Petrobras e outras estatais, plano de saúde, hospitais para determinadas categorias de funcionários (marinha, exército, aeronáutica e polícias militares) verbas para correio de deputados, uso de gráficas oficiais para imprimir brochuras e mais brochuras sobre projetos apresentados, editoras de universidades que só imprimem teses de mestrado e doutorado e mais um sem número de privilégios. O difícil é lembrar de todos.

Difícil não, impossível.

Verbas para comprar lap-tops, franquia para telefones fixos e celulares, refeições subsidiadas em restaurantes de assembléias e câmaras, verba de representação, taifeiros para prestarem serviço em residências de oficiais superiores, hotéis de trânsito para militares, vilas militares, aviões oficiais, helicópteros, lanchas e praias particulares.

Uma farra sem fim. Isso tudo sem contar a aposentadoria com salário integral, estabilidade no emprego e pensão vitalícia em casos de viuvez e filhas solteiras.

Até pouco tempo, o Estado Brasileiro pagava pensão para descendentes de heróis da Guerra do Paraguai e os pobres pracinhas das campanhas da FEB ficavam a ver navios, sobrevivendo com soldos ridículos.

Chega de meia entrada para estudantes, idosos e transporte gratuito em ônibus e outros meios de transporte. Os estudantes paulistas e cariocas, além do passe-livre que já arrancaram do governo, reivindicam agora, alimentação.

No meu tempo de criança de grupo escolar, merenda só para alunos sabidamente pobres. Fora disso, somente na Semana da Criança. O dinheiro saia das caixas escolares, duramente angariado pelas professoras através de quermesses, rifas e doações da comunidade. E funcionava.

Até pouco tempo, portuários estivadores, ganhavam um adicional caso tivessem de descarregar um navio que transportasse vasos sanitários. Era uma taxa para aplacar a vergonha de carregar privadas. Uma típica jabuticaba.

O Rio de Janeiro está falido, como também estão a maioria dos estados brasileiros. O Rio nunca deixou de ser a Capital Federal e até bem pouco tempo, tinha mais funcionários federais do que Brasília. Brasília é um caso à parte. A maior renda "per capita" da nação, em uma cidade que nada produz além de burocracia.

O justo é lógico seria pagar salários dignos a quem merece, aposentadoria suficiente para a manutenção dos velhos, universidade pública paga por quem tivesse condições para tal e escola de qualidade para todos até o fim dos ciclos iniciais. Escola que ensinasse o necessário e também civilidade, normas de bom trato em sociedade e por que não? Princípios de higiene, de como usar o vaso sanitário, de dar descarga, de lavar as mãos sempre que necessário, falar baixo e com educação, respeito aos professores, colegas, país e aos mais velhos. A boa e velha escola onde se ensinava a História do Brasil, a Língua Portuguesa, Geografia e Ciências Naturais. Com o auxílio da informática, pois faz parte da cultura do mundo. Chega de privilégios e benesses.

Não existe e nunca existirá almoço grátis.

Urtigão (desde 1943)