Urtigão: Uma Conjunção Imbatível: Banho Frio, Inverno em Curitiba e Privada Turca.

Deus escreve certo por linhas tortas.

A Operação Lava-Jato só poderia prosperar em Curitiba. Nenhuma outra cidade no Brasil teria as condições ideais para o desenvolvimento de todo o processo. Em boa hora, apesar de ter-se iniciado em Brasília, foi deslocado para Curitiba, lugar de residência de Albert Youssef, velho conhecido da Justiça Federal, da PF e do Ministério Público, em decorrência de seu envolvimento na finada operação Banestado. Um antecedente sério, que envolveu muita gente mas não logrou o êxito esperado. As condições eram outras e de lá para cá, alguma coisa mudou no Brasil.

Louve-se a dedicação de Joaquim Barbosa que na relatoria do processo do mensalão, sob a presidência de Aires Brito, conseguiu condenações inéditas, a despeito de muita corrente contrária, inclusive no STF. Foi um êxito, mas a aceitação dos chamados Embargos Infringentes pelo próprio STF, frustrou a população brasileira que esperava punições mais pesadas para o núcleo político do escândalo.

Sobrou para Marcos Valério e sua gente, além da banqueira neófita Katia Rabello. No entanto, a Ação Penal 470, (do mensalão), abriu o caminho para que sociedade honesta pudesse saber que havia possibilidade de punição para políticos corruptos. Um avanço.

Veio o Petrolao, um verdadeiro achado para o Juíz Sérgio Moro e sua força-tarefa. Meses antes tinha sido aprovada a Lei Anti-corrupção, que legalizou a Colaboração Premiada, que muitos teimam em chamar de Delação. É um instituto muito utilizado nos países que se portam pelo direito anglo-saxão, menos burocrático e muito mais direto do que o direito de origem romana. Nada disso adiantaria se não houvesse por trás das investigações, da coleta de provas, da denúncia e da formação do processo, pessoas dedicadas e experientes na aplicação das normas jurídicas.

Outra coincidência que veio a calhar: no processo do Mensalão não houve nenhuma colaboração premiada e quem ficou de língua travada, à espera de uma salvação política, deu com os burros n'água.

Vide o exemplo de Marcos Valério e seus sócios.

O Petrolão encontrou o clima ideal. Quase de imediato apareceu o primeiro colaborador.

Paulo Roberto Costa abriu a fila e o jogo para Sérgio Moro e sua equipe. Como de costume, negações, repúdios veementes e ameaças de processo. Tudo foi desmoronando. Depois veio Pedro Barusco, puxando uma fila que não acaba tão cedo.

Louve-se também a atuação da imprensa livre, Veja na frente do bloco, a denunciar semana a semana, novos fatos que sempre acabaram se comprovando.

Veio enfim a prisão dos empreiteiros. Fato inédito, apelidado de Operação Fim do Mundo. Nunca o Brasil tinha assistido algo igual. Um gol de letra.

Outro fato preponderante: o STF vota e começa valer o cumprimento imediato da pena, assim que a condenação tenha sido confirmada pela segunda instância. De imediato, 1.400 mandados de prisão foram expedidos e cumpridos. Entre os quais, de Pimenta Neves e Luiz Estevão. Um feito e tanto.

Muita água ainda vai rolar.

O chefão, o "capô de tutti capi", que acode por diversas alcunhas, sendo Lula a mais conhecida, ainda não foi alcançado. É só questão de tempo.

Agora, a cargo de Sérgio Moro, dificilmente ele escapa. Além de experimentar a conjunção inédita de fatores que propiciaram todo sucesso da Lava-jato, vai experimentar outra conjunção imbatível: banho frio, inverno de Curitiba e privada turca.

Obrar em posição de decolagem, à vista dos companheiros de cela, com o frio de Curitiba a castigar a bunda, é duro de aguentar.

Destrava até língua de húngaro, sabidamente uma das línguas mais difíceis que existem.

Urtigão (desde 1943)