Anotações a Respeito de um País sem Jeito de ser Consertado.

Na última página do caderno “Aliás” de “O Estado de São Paulo", de domingo, foi publicado um texto assinado por Alexa Salomão que, fora seu humor trágico, pode ser classificado como a mais séria e competente análise da situação brasileira.

Sob o título “Operação Realismo Fantástico”, a autora dá uma interpretação realista, e nem por isso menos trágica sobre o Brasil.

Aqui são alinhados trechos que mostram isso:

* Há controversia sobre quando tudo começou. Historiadores argumentam que sempre fomos uma nação surreal. A mudança da rainha Maria I, a Louca, para o Brasil já atestava nossa predisposição ao delírio… O momento derradeiro seria o apito final de 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil na Copa…Mas o presidente de uma empreiteira investigada pela Polícia Federal confessou que só se deu conta mais tarde quando a ainda presidente saudou a mandioca.

…De duas ou três vezes por semana, subverte-se a ordem razoável das coisas. O nome disso chama-se realismo fantástico.

… Uma parte dos absurdos brota por geração espontânea. A mulher do Ministro de Turismo que fez um ensaio (quase) sensual no gabinete ofisial e postou as fotos nas redes sociais está nessa categoria. Descobrir que ela também tinha sido Miss Bumbum nos EUA reforça a sensação de que, sim, o País ficou preso em alguma fenda do tempo.

… Enquanto o Brasil pena na crise econômica, a indústria de tornozeleiras eletrônicas para presos cresce quase 300% e há falta de produto no mercado.

… Falta explicar porque o ex-ministro Jacques Wagner é “passivo” e em que circunstância Jarbas Vasconcelos Filho ganhou o apelido de “Viagra”.

… O empresário Marcelo Odebrech tinha oito celulares e aparentemente sofre de hipergrafia – anota de tudo. A polícia estima ter encontrado algo como 500 anotações de sua autoria, boa parte cifrada. Uma das mais polêmicas tratava de “Vaca”, “Vaccari”, “Vacarezza”, e o número 2,2 M – gastou-se tempo e massa encefálica e os investigadores concluíram que se tratava de propina para o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. No fim, tratava-se Hamina, sua vaca (animal) de 2,2 milhões.

E por aí vai a relação que é um retrato do Brasil da ignorância, esperteza, estupidez e corrupção. Um país sem jeito de ser consertado.