
A história de Donald Duck é uma consequência irrestrita da forma criativa, inovadora e irreverente de Walt Disney comandar, pensar e dirigir suas empresas. Depois do inesperado sucesso em “The Wise Little Hen” Donald se tornou personagem constante nas produções de animação dos Estúdios Disney. Em sua segunda grande aparição Donald apresenta para o público os traços de personalidade cômica nervosa que o acompanham até hoje. Donald entra em cena junto com o já famoso Mickey Mouse, o mestre de cerimonias de um show beneficente para órfãos, que apresenta Donald como atração. O curta “Orphans Benefit” satiriza a situação de um Pato com dificuldade de dicção recitando poesias. Nosso amigo até que se dá bem na primeira poesia apesar de quase ninguém compreender os versos… Já durante a segunda “Little Boy Blue” um órfão faz uma piada e ponto... Donald começa a perder a cabeça. Xinga, briga, fala alto, chuta e é sacado do show antes da hora... De rolar de rir. https://youtu.be/8EKKqgGqzbY
Imaginem a sensação que Donald causou na época. Um pato sem papas nas línguas. Um pato que quer fazer as coisas certas mas sempre se dá mal. Donald reflete uma característica dos Americanos. A cultura de fazer graça e rir de si mesmos. Na terra do Tio Sam apesar do que se imagina, falar de suas fraquezas, defeitos, erros e agruras é o normal. Seja com amigos, em reuniões de negócio ou com seu psicoterapeuta favorito os americanos abrem o verbo e mostram que sabem como a vida funciona. Das dificuldades, erros e dores compreendem que rir de si mesmo faz bem e acalma a alma. Com isso viram o jogo, superam seus "defeitos" e se transformam em "sucesso". Donald Duck é a alma critica dentro de cada um. É a raiva que existe quando apesar de tentar o melhor possível, as vezes você perde.
Durante a 2a Guerra Donald também mostrou seu lado político. Junto como vários artistas da United Artists lutou para destronar os Nazistas, Comunistas e Nacionalistas. Defendeu e fortalecer a democracia no mundo pelas telas de cinema. Donald com isso ganhou o Oscar de melhor curta de animação em 1943. “Donald Duck in Nutizi Land” ou “Der Fueher’s Face” como ficou conhecido depois do sucesso nos cinemas. A propaganda política satirizada tem Donald como um soldado em um mundo liderado por Hitler, Mussolini e Hirohito. Donald tenta de todas as formas ser um bom operário em uma fabrica de armamentos. Preparando bombas de todos os tamanhos. Se atrapalha com o excesso de ordens, com o tédio da repetição burocrática e do autoritarismo. Levado ao limite da exaustão física e emocional ele tem uma síncope e explode... Acordando do pesadelo de volta aos EUA levanta da cama vendo a sombra da Estatua da Liberdade em sua janela. Abraça a estatua, sorri e brinda a liberdade. https://youtu.be/kzH1iaKVsBM
Com o final da 2a guerra Donald entrou em uma fase família. Virou o nosso ranzinza favorito. Seu temperamento irritado proporcionou um caminhão de trapalhadas de chorar de rir. Sua infinita e inócua luta contra esquilos sacanas, sobrinhos endiabrados, ursos espertos e um leão da montanha cansado nos fazem rir sem parar. Apaixonado por Margarida não tem sucesso no amor ou nas casualidades do dia-dia. Apesar de invariavelmente estar quieto no seu canto. Termina levando ferro. Abelhas aparecem do nada para perturba-lo. Os esquilos não o deixam em paz. O irritam sem perdão. Suas brigas e defeitos quase sempre terminam em sorrisos nos rostos do público vendo que Donald apesar de tudo é extremamente carinhoso, amável, honesto e verdadeiro. Qualidades que Disney promoveu e continua a promover na gigante corporação que criou e mantém firme com seus parques temáticos e filmes de princesas de todas as raças e cores que vemos e adoramos todos os dias.
Neste ano de eleição para presidente dos EUA vemos um outro Donald. Trump. Com cabelos louros, pele branca/amarela e olhos profundos e secos. Até parece possuir alguma semelhança com o Pato Donald... mas não. É que a constante raiva que ouvimos saindo de seus discursos nas diversas mídias nos confunde. O que definitivamente não o aproxima da personalidade do Donald Duck. Pois no mundo de Trump as pessoas, esquilos, ursos pertecem a um circulo de relacionamento diferente. Não podem viver dentro da mesma multicolorida animação de Disney. Donald Trump parece querer promover uma nova raça onipotente como o futuro da nação. Homens de negócio sérios com gel nos cabelos e mulheres brancas plastificadas idolatrando a superioridade monetária.
Ninguém na America de Trump parece querer rir de seus erros e falhas. Todos necessariamente precisam ser sensacionais e perfeitos. O erro ou equivoco natural e visto como aprendizado não faz parte do seu padrão de sucesso. Trump diz e promove que já nasceu sabendo de tudo. Falhas não existem. O vemos gritando contra Mexicanos e Muçulmanos para ganhar votos de iletrados e americanos isolados por questões religiosas ou culturais com o objetivo de promover conflito social.
O EUA multicultural que vimos nascer com Obama está acabando. O que aparece como contraponto é a suposta superioridade racista do modo Trump de viver. Ele continua na luta para a Casa Branca e tem chances de vencer. Vem se tornando um personagem de desenho animado. O super empresário de sucesso que ergue torres de design duvidosos em locais inapropriados usando operários praticamente escravos durante o dia, enquanto se diverte com os amigos jogando golf em suas tardes de verão.
Donald Trump vai contra a diversidade social e cultural, criatividade e capacidade intelectual que ajuda a diminuir o preconceito entre raças e credo. Coisas que Walt Disney e Donald Duck lutaram sem parar durante suas inesquecíveis vidas.
Trump não é o Donald que gostamos.