
Conheci de vista o Sr. Mayrink Veiga e sua mulher Carmen. Eu estava na recepção do Hotel Del Rey, quando desceu o casal "vinte" da sociedade do Rio e me pediram um cofre para guardar jóias. Estavam em Belo Horizonte para um baile de "glamour girl".
Nunca atendi em minha vasta vida de hoteis um casal com tamanha cara de enfado. Conheci gente de toda espécie e o figurão foi "hors concours". Um entojo, como diria minha finada mãe.
Morreu falido. Parece-me que nunca trabalhou na vida. Herdou do pai, que herdou também do pai, uma concessão de venda de armas e munições para o Exército Brasileiro, desde a Guerra do Paraguai. Como dinheiro não nasce em árvore e não aceita desaforo, quem não trabalha acaba falindo. Foi o que aconteceu. Não sem antes de casar a filha com um neto de Augusto Trajano de Azevedo Antunes, um dos titãs da mineração no Brasil. O neto também não era chegado no "trampo" e o jovem casal queria comandar as empresas de mineração direto de Paris. Parece-me que foram deserdados.
O dinheiro no Brasil anda mudando de mãos e as antigas famílias ricas ou ficaram pobres ou, se tanto, remediadas. Aconteceu com os Guinle, com os Paula Machado e com outras famílias que adornavam a sociedade carioca. O mesmo se deu em São Paulo. Lá se foram os Matarazzo, os Scarpa, os Bonfiglioli, os Lunardelli e outros que não eram amigos de pegar no pesado.
Enquanto isso, atacadistas, antigos comerciantes de secos e molhados, se mudaram para as Ceasas e ficaram ricos. A maioria não ostenta. Vivem bem sem ostentação. Trabalham duro todos os dias, no Rio, no Mercadão de Madureira e na Ceasa, em São Paulo na Ceagesp, em Belo Horizonte, na Ceasa. Em BH, antigos atacadistas da Rua dos Guaicurus, da Av. Oiapoque, da rua São Paulo e da Av. Santos Dumont, foram para a Ceasa, um espaço que foi pensado por Alysson Paolinelli, para promover o encontro do produtor como comprador, tirando da cadeia o "atravessador", mas que foi desvirtuado. Tornou-se a Meca dos atacadistas, querendo ou não, todos eles "atravessadores". Ganham muito dinheiro. Aliás, certos negócios rendem bem mais do que a maioria dos mortais imaginam.
Anos atrás, eu fiz uma pesquisa sobre o comércio de doces em Minas, Rio e São Paulo. Pretendia fazer aqui uma feira do setor. Raramente se encontra um mercado tão estranho e fragmentado. Descobri um produtor de "Maria Mole" no Mercadão de Madureira, que vendia milhões por mês do prosaico doce, no comércio de periferia, nos sinais de trânsito, em todos os quadrantes.
Era um homem rico. Como ele encontrei vários. O mesmo se dá com frutas, legumes, verduras e muita coisa mais. Um novo estrato social de ricos, dinheiro ganho com suor, trabalhando nas madrugadas e de olho no negócio.
Os sobrenomes pomposos vão desaparecendo e os bailes promovidos por colunistas sociais são somente uma lembrança.
E a sociedade que antes brilhava no Country no Rio, no Itanhanga, no Jockey, na Hípica e no Jockey em São Paulo, além do Harmonia, no Automóvel Club de Belo Horizonte, no PIC e no Iate, se contenta hoje com um salão de festas do edifício onde moram e lutam para pagar o condomínio atrasado.
Notas
1) Da coluna de Cláudio Humberto: a Lava Jato deve se tornar um vulcão de água quente no final de julho. Segundo o jornalista, as delações da OAS e da Odebrecht são nitroglicerina pura. A Lava Jato vai atingir Executivo, Legislativo e até o Judiciário. Tem cheiro de enxofre no ar.
2) De uma jornalista da CBN de Belo Horizonte: os ladroes roubaram armas, munições e coletes balísticos. Os coletes que sempre pensei que eram para proteção de quem os usasse, agora são perigosos. São "balísticos". Quase um míssil.
Urtigão (desde 1943)