O Bonde e a Esperança - Arthur Lopes Filho

"Perdi o bonde e a esperança. Volto pálido para casa" - Carlos Drummond

Era o tempo de bondes que chegavam e saíam da Praça. Era o tempo de bondes que todos usavam como transporte. A vida era mais calma e a cidade mais tranquila.

Havia punguistas que habilmente furtavam carteiras e não a violência de hoje ao arrancar bolsas e roubar qualquer coisa sob a ameaça de morte.

Era o tempo de se apaixonar perdidamente pela moça bela que ia no bonde e que se via pela primeira vez..

Era tempo de suspirar profundo pela bela em paixão fulminante e ficar no ponto por horas seguidas a esperar que ela passasse no bonde.

Era tempo em que o tempo passava mais lento e permitia esperas e suspiros.

Era tempo de outro tempo em que paixão não correspondida poderia levar a um romântico suicídio. E no velório e enterro, em vozes baixas, todos comentavam o infausto desfecho e o pecado de quem causara a tragédia. Era o tempo de bondes que chegavam e saíam da Praça, de esperas e suspiros, de paixão fulminante.

Quando me assustei havia perdido o bonde e a esperança, um outro tempo, o da modernidade, despercebido se apossara de tudo. Volto pálido para casa através de vias expressas onde tudo passa veloz, até a moça bela em seu automóvel de rubra cor.


Arthur Lopes Filho