“Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade”. (Nelson Rodrigues)
Caroliano vivia esbravejando por “dá cá uma palha”: sempre ele tinha a razão em tudo.
Veemente em suas opiniões, era pródigo em apontar defeitos de outros e parco, muito parco, em fazer elogios. Não se sabe se, por esbravejar ou por ser veemente, mais de um amigo se afastou dele por ser difícil o convívio. Trabalhador e incapaz de dar trégua a qualquer um sob seu mando, teve sucesso financeiro em sua vida profissional. Para aqueles graduados acima dele, de quem dependia para receber seus haveres, não havia parcimônia de elogios.
Desprezava poetas e trovadores e não dava valor a quem trilhasse os caminhos da literatura. Somente lia os livros que enaltecessem o sucesso, principalmente se havia muitos ganhos financeiros.
Nascido católico, quase se converteu ao Cabal Culto, igreja do Santo Salvo, que prega que Deus somente gosta de quem tem sucesso. Foi contido pela esposa beata de comunhão semanal que ameaçou ir embora levando o filho e as duas filhas.
Até que admirava um amigo que tinha tido sucesso por outros trilhos da estrada da vida, mas este por ser honesto não se locupletara de erários públicos e não se enriquecera. Caroliano quase lhe perde o respeito e veemente esbravejou:
- Onde já se viu não pensar em ganhar dinheiro…
De repente face a escândalos de superfaturamento em obras do governo com repasses a seus elementos de proa, foi feito uma “razzia” na vida de todos os que detiveram ou detinham o poder. Razão tinha o amigo: contra ele nada foi imputado e restou provada sua honestidade.
Cariolano aprendeu esta lição e guardou respeito pelo amigo ainda que ele continuasse apenas “arranjado de posses”. E a vida foi correndo com ele esbravejando veemente por “dá cá uma palha”, sem dar trégua a qualquer um sob seu comando, mas com elogios sem parcimônia a quem liberava seus haveres pelos trabalhos realizados.
Seu único filho tornara-se poeta e trovador e foi morar em uma comunidade livre, situada no litoral do Nordeste. Lá não havia laços de união, as mulheres eram de todos e os homens de todas. Somente no término da gravidez podia-se dizer quem era o pai do nascituro, pelo processo da semelhança.
A filha mais velha se casara com um escritor de poucos méritos literários, mas autor de “best-sellers” que lhe permitia sustentar a casa. Seu livro “A mulher pelada às portas do Paraíso” alcançara muito sucesso tanto que foi traduzido para o búlgaro, para o eslovaco e para o latim popular, por um frade insano.
A filha mais nova decidiu ficar em casa e seguir os passos do pai, esbravejar com ele “por dá cá uma palha”. Viviam às turras para sofrimento da esposa, beata de comunhão semanal.
Esta filha era a que ele mais detestava: fazia-lhe reconhecer na velhice como sempre fora íntimo da Veemência do Obtuso.
Arthur Lopes Filho
Caroliano vivia esbravejando por “dá cá uma palha”: sempre ele tinha a razão em tudo.
Veemente em suas opiniões, era pródigo em apontar defeitos de outros e parco, muito parco, em fazer elogios. Não se sabe se, por esbravejar ou por ser veemente, mais de um amigo se afastou dele por ser difícil o convívio. Trabalhador e incapaz de dar trégua a qualquer um sob seu mando, teve sucesso financeiro em sua vida profissional. Para aqueles graduados acima dele, de quem dependia para receber seus haveres, não havia parcimônia de elogios.
Desprezava poetas e trovadores e não dava valor a quem trilhasse os caminhos da literatura. Somente lia os livros que enaltecessem o sucesso, principalmente se havia muitos ganhos financeiros.
Nascido católico, quase se converteu ao Cabal Culto, igreja do Santo Salvo, que prega que Deus somente gosta de quem tem sucesso. Foi contido pela esposa beata de comunhão semanal que ameaçou ir embora levando o filho e as duas filhas.
Até que admirava um amigo que tinha tido sucesso por outros trilhos da estrada da vida, mas este por ser honesto não se locupletara de erários públicos e não se enriquecera. Caroliano quase lhe perde o respeito e veemente esbravejou:
- Onde já se viu não pensar em ganhar dinheiro…
De repente face a escândalos de superfaturamento em obras do governo com repasses a seus elementos de proa, foi feito uma “razzia” na vida de todos os que detiveram ou detinham o poder. Razão tinha o amigo: contra ele nada foi imputado e restou provada sua honestidade.
Cariolano aprendeu esta lição e guardou respeito pelo amigo ainda que ele continuasse apenas “arranjado de posses”. E a vida foi correndo com ele esbravejando veemente por “dá cá uma palha”, sem dar trégua a qualquer um sob seu comando, mas com elogios sem parcimônia a quem liberava seus haveres pelos trabalhos realizados.
Seu único filho tornara-se poeta e trovador e foi morar em uma comunidade livre, situada no litoral do Nordeste. Lá não havia laços de união, as mulheres eram de todos e os homens de todas. Somente no término da gravidez podia-se dizer quem era o pai do nascituro, pelo processo da semelhança.
A filha mais velha se casara com um escritor de poucos méritos literários, mas autor de “best-sellers” que lhe permitia sustentar a casa. Seu livro “A mulher pelada às portas do Paraíso” alcançara muito sucesso tanto que foi traduzido para o búlgaro, para o eslovaco e para o latim popular, por um frade insano.
A filha mais nova decidiu ficar em casa e seguir os passos do pai, esbravejar com ele “por dá cá uma palha”. Viviam às turras para sofrimento da esposa, beata de comunhão semanal.
Esta filha era a que ele mais detestava: fazia-lhe reconhecer na velhice como sempre fora íntimo da Veemência do Obtuso.
Arthur Lopes Filho