Foram tantos os pecados confessados que Monsenhor Vigário saiu do confessionário para esmurrá-lo e expulsá-lo de sua igreja.
“- Cão danado nunca mais ponha seus pés no sagrado solo desta igreja.”
O indignado sacerdote se dirigiu à Sacristia onde foi chorar e flagelar-se com chicote de couro cru. Nem assim se sentiu livre das danações, ajoelhou-se em bagos de milho e rezou tantas Ave Maria e tantos Padre Nosso até que secaram suas lágrimas e sua garganta.
Pôde afinal se dirigir à Casa Paroquial onde tomou uma sopa rala e comeu um pão dormido, logo ele um devoto da boa gula. Depois de uma noite de sobressaltos, acordou na madrugada e feita a ablução, pode purificado rezar a primeira missa com tanta emoção que os fiéis foram às lágrimas.
Por todos foi considerado um santo, até por Nezinha, esposa do Sacristão, que tanto o aconchegava. Fazia-lhe cafuné, coçava-lhe as costas e parece que também outras partes mais recônditas. Uma verdadeira companheira.
Tobias, esmurrado e expulso, saiu aturdido porta afora da igreja onde fora batizado, crismado e casado. Mané do Correio, seu amigo de infância, seu confidente, havia lhe aconselhado a não confessar com Monsenhor Vigário. Se lhe era fundamental confessar seus pecados, procurasse o Padre Martinho que era meio surdo e distraído: ele daria a absolvição com penitência de meia dúzia de rezas.
Tobias, esmurrado e expulso, saiu aturdido porta afora da igreja onde fora batizado, crismado e casado. Mané do Correio, seu amigo de infância, seu confidente, havia lhe aconselhado a não confessar com Monsenhor Vigário. Se lhe era fundamental confessar seus pecados, procurasse o Padre Martinho que era meio surdo e distraído: ele daria a absolvição com penitência de meia dúzia de rezas.
Ele, Tobias muito idiota, por lamúrias de Purificação, sua esposa, para se livrar de tanta pressão, foi se confessar com o Monsenhor Vigário e deu no que deu. E não eram tantos pecados, apenas adultérios com esposas de puros e verdadeiros paroquianos, frequência toda quinta-feira à casa de Loura na Zona Boêmia e liberdade de cama com as cozinheiras de três casas vizinhas. Com a babá de seu sobrinho eram somente folguedos vespertinos, mas com a tia dela eram arruaças por detrás das bananeiras das margens do ribeirão. Coisas que acontecem com tanto homem de boa sabedoria.
Mas parece que o que mais aborreceu o Monsenhor Vigário foi ele confessar que não deixava sua digníssima esposa contribuir com quantias maiores para a Igreja.
Tudo contou para seu amigo e confidente, Mané do Correio que, sempre mais sábio, depois de muito meditar, arranjou a solução. Tobias, proibido de por os pés no solo sagrado da Igreja, na missa solene e cantada do próximo domingo, pelo Adro Principal, iria de joelhos desde a porta principal até ao Altar-Mór, levando como Ofertório um exibida cestinha com boa quantia em dinheiro. Ficaria prostrado com a cestinha à vista, até que Monsenhor Vigário o mandasse se erguer para receber o perdão. Comungaria e tudo estaria resolvido.
Assim aconteceu para alegria de Tobias e de Purificação, sua santa esposa.
Mané do Correio em sua perspicácia, sabia que Monsenhor Vigário agora considerado santo, não deixaria escapar a possibilidade de demonstrar como se tornara compreensivo e magnânimo.
Arthur Lopes Filho
Mané do Correio em sua perspicácia, sabia que Monsenhor Vigário agora considerado santo, não deixaria escapar a possibilidade de demonstrar como se tornara compreensivo e magnânimo.
Arthur Lopes Filho