Urtigão: Centenário de um Político Diferente

Manifestantes derrubam grades do Palácio dos Bandeirantes
Os paulistas estão comemorando o centenário de André Franco Montoro. Político de escola antiga, anterior à Ditadura Militar, oriundo do PDC, uma corrente da democracia cristã, com bastante prestígio após a queda de Getulio Vargas.

Durante o período de mando dos militares, Montoro era parlamentar. Nunca foi muito bom de voto. Em 1982, nas primeiras eleições diretas para governador desde 1965, candidatou-se ao governo do Estado.

Tinha idéias diferentes. Já falava em controle de poluição, impressionado com o desastre de Cubatão, considerada a cidade mais poluída do Brasil naqueles tempos. Era um discurso novo, que não seduzia os eleitores, mais entusiasmados com a volta dos anistiados a política, líderes sindicais emergentes como Lula e Luiz Antônio de Medeiros e antigos como o Joaquinzao, velho pelego, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

Montoro tinha outras idéias estranhas para a época. Pregava a implantação de hortas comunitárias, produção caseira e outras esquisitices não muito caras a um Estado acostumado a grandes empreitadas agrícolas. Apesar de suas ideias pouco ortodoxas,

André Franco Montoro foi eleito com larga margem sobre seus oponentes. No início da gestão, teve percalços. Os velhos políticos estavam desacostumados do poder e a escolha de auxiliares não foi das mais felizes. Sindicalistas tentaram invadir o Palácio dos Bandeirantes e a custo foram contidos pela polícia. Os manifestantes chegaram a derrubar as grades do palácio e Montoro foi visto como hesitante e até de medroso. Poucos lembravam que a sua formação de advogado e sobretudo a origem na democracia cristã faziam dele um político avesso a violência.

Passados os primeiros meses, o afável Montoro se acertou no cargo. Homem probo, de hábitos simples, cultor da língua portuguesa Franco Montoro deixou ótimas lembranças em São Paulo, muitos admiradores e seguidores de qualidade tais como o ex-vice governador Cláudio Lembo. Bons tempos em que existiam no Brasil partidos políticos com programa de governo definidos e honestos. A democracia cristã faz falta nesses dias em que vivemos uma sopa de letras de partidos de aluguel, que nada representam a não ser o interesse pessoal de seus dirigentes.

Notas:

1) Como curiosidade informo que Montoro mandou plantar uma horta no Palácio dos Bandeirantes. Não sei se ainda existe.

2) Em Belo Horizonte, tivemos vários representantes do PDC, que contribuíram para a boa política no Estado. Entre eles podemos alinhar Luiz Gonzaga de Sousa Lima, Francisco de Sousa Lima e seus irmãos Paulo e Theofilo, além de Ribeiro Pena, candidato a governador em 1960, competindo com Tancredo Neves do PSD e José de Magalhães Pinto, eleito pela UDN, na esteira de Jânio Quadros.


Urtigão (desde 1943)