Urtigão: Lula e sua Biografia

No julgamento da ação penal 470, mais conhecida como Mensalão , vários juízes do STF ao analisar os crimes cometidos por José Genoíno e José Dirceu de Oliveira e Silva, lamentaram o fato de ter de julgar pessoas detentoras de eloquentes biografias. 

Não sou advogado e tampouco juiz, mas discordo "in totum" das ressalvas feitas, sobretudo a respeito de José Genoino. 

Em um tribunal, julga-se o crime é tudo que estiver nos autos. Biografias, por mais edificantes e meritórias, ficam de fora e não servem para abrandar a pena. Vide Oscar Wilde, julgado e condenado na Inglaterra do século dezenove por ser homosexual e manter um romance com um um filho de um Lord. Sua biografia não prevaleceu. Pagou pena no cárcere de Reading, onde aliás escreveu um poema belíssimo e morreu pobre e esquecido na França. Seus restos mortais estão no cemitério Pere Laichaise em Paris.

Dito isso, voltemos ao Brasil.

De forma audaciosa para um blog nanico, ouso lançar aqui um desafio a Luís Inácio Lula da Silva: convoque a Força Tarefa da Lava jato, o juiz Moro e quem mais achar conveniente e proponha uma colaboração premiada. Algo inédito e retumbante como o brado do Hino Nacional Brasileiro. 

Conte tudo o que sabe e o que fez, desde os tempos de líder metalúrgico, da fundação do PT, dos colegas de sindicato, dos apoiadores da academia, dos artistas e intelectuais . Não se esqueça de contar tudo sobre o seu relacionamento com os comunistas da América Latina, sobre os irmãos Castro, Daniel Ortega, Pepe Mujica e o bispo reprodutor que foi presidente do Paraguai. Detalhe com minudencias a sua relação com José Dirceu, o homem de mil caras e muitas mulheres, com jornalistas de esquerda, com escritores tipo Veríssimo, Fernando de Morais, Mario Sergio Conti. Filósofos e pseudo filósofos tais como Wladimir Safatle, Marilena Chaui e outros USPianos, da Unicamp, da Universidade Zumbi dos Palmares e outros enclaves comunistas existentes no Brasil. Não se esqueça do MST de Stedile e do MTST de Boulos e por fim, chegue ao empresariado. 

Comece com José Alencar Gomes da Silva, passe por Eugênio Stabile, Eike Batista, a turma da JBS, Bumlai, Schain, os Constantino, a turma Sadia/Perdigão, Carlos Jereissati e a turma da Andrade Gutierrez, sócios da falida Oi e chegue até os empreiteiros. Esses o Brasil já sabe de cor. Saíram das notícias econômicas para as páginas policiais e se tornaram "arroz doce de festa" nas delações premiadas. 

Não se esqueça de contar tudo sobre seu falecido amigo e ministro Márcio Thomaz Bastos, seu compadre e advogado Roberto Teixeira, Nelson Jobim, e outros advogados de nomeada no Brasil. 

Depois passe para os políticos. 

Tenho quase certeza que o rolo compressor vai revirar a República ao avesso. Não se esqueça das ditaduras africanas, regimes sanguinários e eternos que foram ajudados pelo Brasil Potência. Será algo nunca visto na política mundial.

Um ex-presidente de um país continente, talvez o mais popular do período republicano, detalhando amiudadamente todas as trapaças, roubos, achaques e trambiques de um político que despontou aos olhos do mundo como uma liderança nova, algo inovador, um homem tosco e de mirradas letras, que emergiu da pobreza e da porta baixa e humilhante de todos os retirantes nordestinos, para tornar-se o novo descobridor do Brasil.

Faça isso Lula. Se o fizer, salvará de forma espetacular a sua biografia. Vai tirar a sua alma da latrina e despontar como um estadista que reconheceu seus erros, que desceu de sua arrogância para pacificar e limpar o Brasil de muitas manchas quase indeléveis feitas nos últimos quarenta anos.

Aconselho, como mais velho do que você, assistir um filme francês de 1954, estrelado por Pierre Fresnay e Maurice Morrand. O nome em francês é "Le Défroqué". No Brasil, ganhou o título de "Desespero D'alma". É um drama de dois padres católicos. Um tentando salvar a alma do outro. 

Acredito que você anda meio desesperado e com razão. Faça algo inédito, nunca visto neste País, expressão muito a seu gosto. Salve sua biografia ou escolha morrer no escárnio, afogado no álcool. A morte em decorrência da bebida e lenta, triste e sofrida. Não vale a pena. 

Pense nisso!

Urtigão (desde 1943)