URTIGÃO: Premonição e a Petrobrás

Roberto Campos, um dos grandes expoentes da cultura brasileira - prova inconteste de que pode existir vida inteligente abaixo do Equador - dizia que "o bem que o Estado pode fazer é limitado. O mal é infinito".

No embate, hoje démodé, entre Direita e Esquerda, os velhos conceitos do tempo da Revolução Francesa, originados dos lugares ocupados no plenário por Jacobinos e Girondinos, não são suficientes para explicar o mundo pós-globalização . Entretanto, na triste América Latina - o continente dramalhão - os velhos conceitos ainda sobrevivem. Muitas vezes por oportunismo, outras vezes por obliteração mental e entendimento canhestro e tosco de teorias formuladas no século dezenove.

A frase seguinte é atribuída a Winston Churchil - como já foi atribuída ao historiador francês Francois Guizot, a um presidente americano e até a Georges Clemenceau, chanceler francês, responsável pela condução da França durante a Primeira Grande Guerra.

Diz a frase: "se você não é de esquerda aos vinte anos, não tem coração. Se não se torna um conservador aos quarenta, não tem cérebro".

Eu vivi, como universitário, nos anos sessenta, o golpe militar e a ditadura que se seguiu. Antes da tomada do poder e mais, desde o pioneirismo de Monteiro Lobato, em sua campanha em favor do petróleo e do ferro, passando pelo slogan “O Petróleo é nosso” até aos nosso dias, a Petrobras sempre foi um símbolo da soberania nacional.

Há tempos, escrevi neste blog um artigo intitulado "A Maldição do Petróleo" no qual faço considerações sobre a commodity e suas consequências funestas quando é eleita prioridade do Estado e um bem a ser defendido e colocado sob os olhos vigilantes dos mandatários e políticos, notadamente os de esquerda.

Aos setenta e dois anos, aprendi que não existe nenhuma verdade absoluta se colocada à luz de fatos históricos. Fatos esses que podem estar bem perto de nós, na cronologia.

Senão vejamos: há dias, em consultório médico, local propício para folhear revistas antigas, apanhei um exemplar da Veja de 08/01/14.

Numa matéria sobre fatos históricos daquela que já foi a maior empresa brasileira, sob o título "Um nervo exposto", achei uma reportagem sobre investigações feitas na Petrobras pela Comissão da Verdade, perseguições políticas e demissões decorrentes de posições ideológicas.

Lá na revista está descrito que até 1964, na petrolífera, quem era de esquerda era bem visto. Se conservador, perseguido.

As coisas mudaram após o Golpe Militar.

Investigações, inquéritos, interrogatórios e demissões.

A empresa tinha na época trinta e seis mil funcionários. Quinhentos e dezesseis foram demitidos dentre todos os investigados e vários punidos em razão de posições políticas.

Não encontraram indícios de tortura e tampouco de maus tratos. Todos os documentos foram colocados à disposição da Comissão da Verdade, pela companhia.

Em toda essa história, encontrei um parecer escrito pelo Gal. Antônio Luiz de Barros Nunes, chefe da comissão interna de investigação do governo militar, que aqui transcrevo:

"Parecia ser mérito o empregado alardear-se esquerdista ou comunista. Afirmamos sem hesitação, que, se mais um pouco demorasse o clima de direitos excessivos do homem, das injunções políticas e da influência de falsos líderes sindicais, a ruína apossar-se-ia da Petrobras".

Se era uma premonição, não posso afirmar.

No entanto, cinquenta anos depois, a previsão do general se materializou e a companhia orgulho nacional, tornou-se um escândalo brasileiro e internacional, ruinoso em todos os sentidos, por obra e graça de um governo desonesto comandado por falsos sindicalistas (o número da edição citada é 2355 e pode ser acessada no arquivo digital da revista) 


https://acervo.veja.abril.com.br/index.html#/edition/2355?page=1&section=1&word=2355


Notas:
1) Dizem as más línguas que Dilma Rousseff está demorando a divulgar a sua tão propalada carta aos brasileiros em razão do curso intensivo de alfabetização que contratou. Estava indo bem mas Lula resolveu dar uma mãozinha e atrapalhou o documento. Dizem que é uma peça capaz de fazer inveja ao "J'acuse", famoso manifesto de 

Emile Zola em favor do Capitão Alfred Dreyfuss. 

2) Primeira providência da Ministra Carmem Lúcia, eleita presidente do STF: não admitir ser chamada de presidenta, excrescência linguística criada pela alma penada que ainda habita o Palácio da Alvorada. Deve estar fazendo companhia ao fantasma de Jânio Quadros no cinema do Palácio, assistindo intermináveis sessões de faroeste.


Urtigão (desde 1943)