História Acontecida Faz Pouco Tempo - Artur Lopes Filho

Aconteceu no interior de Minas Gerais, lá pelas bandas do Leste, em uma cidade de gente muito brava. Um cidadão que andava sempre de revólver na cintura, dizem que era um trinta e oito carga dupla, eleito prefeito resolveu se enriquecer com o dinheiro público. 

No primeiro mandato já se tornou abastado, recebera comissões em toda obra feita e em toda compra da prefeitura. No segundo mandato foi que enriqueceu para valer, aumentou os percentuais e nem as compras na padaria fugiram de sua participação. Foi tanto que recebeu que a polícia foi obrigada a fazer sindicâncias, e pelo rombo não foi difícil fazer a denúncia e a justiça fazer a condenação: cadeia e retirada do trinta e oito carga dupla. 

Condenado e preso na penitenciária da Capital, foi levado algemado para depor em sua cidade. Só não viu quem não quis, estava algemado até nos pés. Sua esposa casada no civil e no padre teve vergonha, mas tinha outros planos. Seus filhos meninos crescidos, choraram e se esconderam com muita vergonha. Somente ele que se julgava acima da lei, sorria e debochava dos honestos e de homens e mulheres que iriam de novo votar nele ou em quem indicasse. Consta que olhava para essas pobres criaturas e debochava: “- Êta povinho besta, dou botijão de gás e votam em quem eu mandar”. 

Assim era Wilnardo, filho de Wilma e Bernardo. Mas com a condenação ficou impedido de ser candidato, lançou sua esposa Larissa e confiou como chefe de campanha o Bonitão. Foi difícil, mesmo após subornar todos os eleitores mais pobres, mas perdeu a eleição de sua esposa com uma diferença de apenas 97 votos. Havia zombado do Juiz de Direito, “aquele é um frouxo, fiz a campanha usando tornozeleira de preso e nada me aconteceu”. Acabou sendo recolhido ao cárcere da penitenciária da capital, onde não recebeu nem uma visita da esposa derrotada. Ela sempre se entendia com o Bonitão e, com a cadeia do marido, passaram os dois a partilhar da cama nupcial que Wilnardo mandara fazer pelo melhor carpinteiro do município. 

Dizem que a vida dos dois é a melhor possível, preferem os coitos ruidosos e permanecem na cama nupcial o mais que podem. O trinta-e-oito carga dupla foi devolvido, mas hoje quem faz uso é o Bonitão. Tão cedo o indigitado Wilnardo sairá da cadeia, andou batendo no diretor e em dois guardas, que revidaram enfiando o cassete em orifício do enfurecido preso. Dizem que acabou gostando e vez por outra agride guardas.

Hoje o Bonitão anda pela cidade todo pimpão e Larissa, toda gatinha, fica dependurada nele.

Assim é a história que contam e dada como verdadeira pelos eleitores daquela cidade do Leste mineiro.


Arthur Lopes