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Latomia em Siracusa |
Engraçado que latomia é uma palavra atualíssima e que, ao longo da civilização, teve várias utilizações.
Na antiguidade greco-romana referia-se a pedreira ou mármore usado para prisões, feita em rocha escavada, coisa hoje abominável apesar de tantos crimes cometidos por todos os cantos do mundo.
Embora tenha uma origem obscura, latomia é mais conhecida como o canto monótono de uma ladainha. No Nordeste do país, latomia refere-se a queixume e choradeira mas também a barulho e ruído, enquanto no Sul significa conversa fiada.
Melhor ficarmos nesse ponto: conversa fiada.
Se a palavra praticamente perdeu o seu uso na linguagem corrente, uma coisa é certa: mais do que nunca latomia é atualíssima.
Quer latomia maior que promessas de combate ao crime quando sua incidência é cada vez mais trágica nas ruas do país?
Latomia escancarada são as análises sobre soluções para conter o vendaval de corrupção que assolou e ainda assola o país.
E é também latomia o que se diz nas dezenas de programas esportivos, com tantos especialistas em extravantes teorias sobre um pobre futebol de toques de bola infrutíferos para, no final da partida, o placar de um a zero ser tratado como goleada homérica.
E tem a latomia politicamente correta que se esforça para impedir que cada pessoa se expresse com naturalidade para falar o que bem lhe aprouver, seja com sonoros palavrões ou não, tendo em vista as loucuras de um mundo avançado tecnologicamente mas, ao final, de uma ignorância exemplar, se assim for permitido expressar.
Boa latomia mesmo era a de tia Dulce no seu triste cantar à cata de ervas e plantas ditas medicinais ou quando nos contava histórias para a gente dormir.
Mário Ribeiro