Urtigão: A Constituição Cidadã se Transformou em Mortadela

"Le Brésil n'est pas un pays serieux" 
Bem ao gosto do PT e de sua caterva tocada a sanduíche de mortadela e tubaína, o Senado da República usou de uma excrescência jurídica e fez prevalecer sobre a lei maior o regimento da casa onde se votava o impeachment de Dilma Rousseff. 

A tão falada "Constituição Cidadã", prolixa e cheia de defeitos, foi transformada em mortadela. Fatiaram o texto que rege todo o ordenamento jurídico do País à luz da conveniência de todos políticos que de agora em diante forem enquadrados na Lei de Ficha Limpa e na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Ponto para os sacanas que mais uma vez cospem no rosto do povo honrado e colocam novamente em dúvida a seriedade do Brasil, o respeito a contratos e o cumprimento estrito de tudo que for acordado entre as partes .

Atribuíram a frase ao Gal. Charles de Gaulle mas a atribuição é indevida. Foi dita por um diplomata francês, no auge da "Guerra da Lagosta”, um episódio bizarro de nossa história, ainda no governo de João Goulart.

Juristas de peso, sobretudo os mais velhos e mais sábios sempre disseram que a Constituição de 1988 não era uma boa peça jurídica. Ela tem um erro enorme no seu nascedouro. Foi feita pelo Congresso e se acomodou aos interesses dos políticos.

O Congresso nunca foi e nunca será poder constituinte. É um poder constituído e não foi e nunca será isento para elaborar, votar e promulgar uma constituição de qualidade. É livre de interpretações dúbias. Fácil de ser burlada ou contornada por juristas de boa lábia em favor de políticas espúrias e o total favorecimento de uma elite formada pelos três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, todos aliados quando o que está em jogo é o benefício da "nomenklatura", entidade nascida na União Soviética.

Engloba todos os entes federados e toda a classe de funcionários públicos, de todas as esferas que gozam de privilégios inimagináveis ao cidadão brasileiro comum.

O episódio que livrou Dilma Rousseff de perder o direito à função pública é puro e cristalino como a luz meridiana do sol. Preserva interesses muito maiores do que os que foram preservados para a microcéfala que infelizmente nasceu em Minas mas se julga gaúcha de corpo, alma e grossura. Só não é mais grossa por falta de espaço!

O conluio pseudo-jurídico contou com o apoio do presidente do Supremo Tribunal Federal, que agindo como Pilatos, invocou a sua qualidade de somente presidir o julgamento e não interferir no processo em virtude de não estar no Senado como juíz, mas apenas como presidente do júri de fato. Saida tangencial e oportuna. Inacreditável que o Presidente da maior instância do judiciário, a quem cabe zelar pela Constituição, proceder de tal forma.

Agiu como reza a letra fria da lei.

Como magistrado, pecou exemplarmente no conteúdo. Se absteve de tomar partido e avalizou o atentado à Constituição.

Tristes trópicos.

Realmente não somos um país sério.


Notas:

1) Assim que eu souber quais foram as universidades que convidaram Dilma Rousseff para dar aulas vou enviar para elas o currículo de todas as galinhas que tenho na minha pequena chácara.

Vou enviar também o currículo do galo, um belo e emplumado representante da raça que atende pelo nome de Bernardão.

Se ela pode dar aulas com apenas dois neurônios, todo meu galinheiro está devidamente habilitado.

O galo se candidatará a reitor.

2) Um belo teatro foi levado para dentro dos lares brasileiros durante nove meses por toda a mídia. Ótimos atores, capazes de transmudarem rapidamente, indo da mais convincente indignação ao escárnio e ao riso desabrido diante de questões seríssimas.

Se editarmos todas as horas de transmissão do processo de impeachment, faremos um belo filme que mostrará sem retoques a personalidade de nossos políticos. E pensar que são nossos (deles) representantes. Pobre povo brasileiro.

Tivemos de tudo no processo de impeachment. Choro e ranger de dentes, encenação, galhofa e poses estudadas para sair bem na fita. A conversão de Katia Abreu é de fazer inveja à conversão de São Paulo no caminho de Damasco e a de Santo Antão, retratada em um quadro famoso.

Tivemos ainda o tal senador Randolfe Rodrigues que emprestou sua pata para tirar a castanha da brasa. Os verdadeiros donos não queimaram a mão e dela se locupletaram bem ao estilo do PMDB.

Urtigão (desde 1943)