Vapor Gaiola do Rio São Francisco - Josinaldo |
Era tristeza para poucos, era alegria para muitos, mas juntos zarpavam transportando coisas e gentes.
E na partida, de farda branca, ficavam na ponte de comando os graduados.
Dizem e até houve comprovação, que um dos comandantes já contabilizara mais de 25 filhos ao longo do percurso.
Muito gostava de outras barrancas onde mulheres casadas ou solteiras, estavam sempre penteando o desejo.
Um apito do “Gaiola” avisava que eles estavam chegando, elas logo faziam a ablução na água do rio e esperavam ansiosas para, na areia quente, consumarem a bondade. Sempre em pura alegria.
Não se importavam de perder o frescor das águas no corpo, pois soberanas deitadas na areia quente, em coitos sem pecado, arrancavam lamentos de “bem bom” dos navegantes. Ao longo do percurso de ida, ao longo do percurso de volta.
Quando o “Gaiola” chegava de volta na cidade, desde longe seu apito avisava. Não era bom haver surpresa, homens que levavam consolo a mulheres que haviam ficado sem calor na cama, saltavam janelas, acolhidos quando era noite e escorraçados pelo apito se ainda era madrugada.
O São Francisco, santo para os ribeirinhos, percorria seu caminho desde a nascente até o mar, ora imponente em águas barrentas das “cheias” que escavavam barrancos, ora maravilhoso em águas límpidas do “tempo da seca”.
Mas navegantes navegavam somente de Pirapora a Juazeiro, era o que o rio permitia para as tentações nas barrancas.
E quando autoridades disseram que haveria contenção de muita água, verdadeiro “mar no sertão”, os “Gaiolas” somente puderam chegar ao início desse lago.
E não mais se ouviram apitos para avisar que chegavam os navegantes, casadas e solteiras em vão pentearam o desejo, não mais foram soberanas em coitos sem pecado.
Desrespeitosos passaram a chamar o grande rio de “Velho Chico”, como se a virilidade e o desejo das partes penteadas, não mais existissem.
Arthur Lopes