Tempestades Morais - Crônica "Estado de Minas" - 13/10/2016

O estrago provocado no Haiti não se resumiu à violência do ciclone Andrews: de contrapeso, veio a desesperança.

Como pode o povo de território pequeno ser vítima de seguidas tragédias causadas pela natureza?

Dos escombros surge o natural desalento diante de uma espécie de armadilha que o tempo sempre traz de volta.

Haja ânimo para, a cada vez que vem a tormenta, ter de reconstruir tudo que foi arrasado pela fúria de tufões e ciclones, se é que se possa fazer distinção entre uns e outros se eles reduzem tudo a pó e renovam a tristeza de um povo que parece querer apenas ter paz.

Triste nisso tudo é que, por mais que nos penitenciamos em relação às vítimas do Andrews, não conseguimos ter a dimensão real do sofrimento daquele povo, pois não vivemos na carne esse tipo de tragédia.

Fotos e reportagens sensibilizam nossos corações, mas é diferente sentir in loco a dor vivida pelos haitianos.

Por viver num país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, nossa tragédia é outra. Na verdade, é tragédia contínua que se complica na medida em que continuamos a utilizar o jeitinho tão nosso, para encobrir mazelas morais nem sempre pequenas mas indigestas para nossos destinos em geral.

Elas vão se acumulando e vez por outra provocam tormentas que podem ser comparadas à violência de tufões e ciclones. E seus estragos.

Talvez fosse importante para nós brasileiros pensarmos não sobre tragédias provocadas por fenômenos da natureza, mas sobre tormentas envolvendo a sede pelo poder de políticos sem limites que só pensam neles próprios.


Mário Ribeiro