Urtigão e a Ocupação dos Desocupados ou a Lei Continua Desigual para a Maioria


Há tempos narrei neste espaço a minha iniciação na política. No distante ano de 1950, ano em que a maioria dos mortais vivos já estão mortos e, se não estão, esperam somente a bola sete, na minha casa houve votação.

Morávamos numa cidadezinha de nome Coimbra e a casa onde morávamos (alugada) era das maiores da cidade. A justiça eleitoral requisitou uma das salas da nossa casa e nela instalou o local de votação. Feito com tábuas, à semelhança de um cubículo, lá votaram eleitores, na sua maioria da zona rural.

Por falta de banheiro, desapertaram a bexiga nas gretas do assoalho, herança da eleição de Vargas e Juscelino.

Uma fedentina que resistiu as bravas investidas de creolina feitas por minha mãe.

Narro mais uma vez esse fato para ilustrar o que tenho a dizer sobre a ocupação das escolas pelos estudantes secundaristas.

No Paraná, foco maior da ocupação dos desocupados, o TRE obrigou-se a remanejar várias seções eleitorais, em virtude da dita ocupação. Custo para o nosso bolso: três milhões de reais.

Em Belo Horizonte, o juiz coordenador do TRE declarou na TV que negociou com os estudantes que ocupam o Colégio Estadual Central, objetivando manter no prédio PÚBLICO as seções de votação.

Pergunto: onde está a igualdade da lei, inscrita no início da constituição cidadã. Será quemeus país negassem a requisição do Tribunal para instalar um local de votação na nossa casa, que não era pública, o juiz da comarca de Viçosa iria negociar com meu pai?

E a catinga que ficou da urina, passada a eleição?

A justiça eleitoral mandou limpar e desinfetar?

Nada disso. As ordens da justiça não permitem contestação. Em primeiro, cumpre-se . Em segundo, faça o recurso, caso caiba. Se o recurso for aceito, sujeite-se aos intermináveis prazos legais. Onde está a igualdade da lei.

Aos desocupados que estão nas escolas a protestar contra a PEC 241, carícias de luvas de pelica e trato de diplomata francês. Aos pobres mortais, cumpra-se a lei. Se não aceitar, que se faça sob vara. Dura lex sed lex.


Notas:


1) O título do artigo foi chupado de Rodrigo Constantino que publicou um bem melhor na Revista ISTOÉ, com o mesmo título. Fica consignado o plágio bem intencionado, feito por uma causa comum. 


http://rodrigoconstantino.com/artigos/ocupacao-dos-desocupados-coluna-desta-semana-na-istoe/

Ainda sobre estudantes e ocupações, recomendo um excelente post de Leandro Narloch no site de veja.com Titulo: A lei geral dos protestos dos estudantes. 
Permito-me, com as devidas "venias" enunciar a lei, de uma clareza meridiana: "os protestos estudantis são diretamente proporcionais à sensatez do tema em questão. Quanto mais sensatas forem asleis e as mudanças propostas pelo governo, mais estudantes protestarão contra elas".


Ainda com a devida licença do autor, permito-me acrescentar ao lado dos estudantes os sindicalistas os partidos de esquerda radical, os pobres de espírito, os artistas e os mamadores da viúva.

2) A ocupação das escolas no Paraná já produziu uma nova liderança estudantil, quiça uma musa. Chama-se Ana Júlia Ribeiro e ficou famosa na internet por um discurso feito na Assembleia Legislativa do Estado. Augúrios para a adolescente e que ela não tenha o mesmo fim de Daniel Cohn-Bendit, líder estudantil dos protestos na França em maio de 1968 e também as suas colegas chilenas, belas comunistas, que depois de eleitas, naufragaram no projeto socialista da Bachelet.



Urtigão (desde 1943)