Shimon Peres em 1986 |
Nestes tempos de Alzheimer e Parkinson, mais difícil ainda.
No entanto, só existe uma fórmula para não envelhecer: morrer jovem, o que a maioria não quer. Morrer jovem é contra os instintos mais primitivos que nos empurram para a velhice. Instinto de conservação. Deixemos de lado a filosofia de botequim que às vezes pratico, vamos aos fatos.
Se nos faltam as forças, se as doenças aparecem de forma inexorável e as dores tornam-se uma constante, existe uma fórmula de envelhecer sem manchas. Basta-nos aceitar a velhice com dignidade e fazer uso do cérebro. Exercitar a mente, ler, escrever, estudar sem compromisso de passar de ano e outras atividades prazeirosas nos ajudam a esperar a única certeza que temos desde o nascimento: a morte.
Enquanto ela não chega, vamos refletir sobre os exemplos de velhice. As dignas e as ridículas.
Morreu Shimon Peres com noventa e três anos de idade. Último representante de uma legião de judeus notáveis, a maioria egressa do leste europeu.
Foi-se o último dos fundadores do Estado de Israel. Uma geração de ouro de homens e mulheres, forjados na necessidade, muitos nos campos de concentração de Hitler, filhos ou chefes de famílias destroçadas por guerras, fome, miséria e perseguições raciais.
Uma pleiade de notáveis a começar por Ben Gurion, passando por Golda Méier, Menachem Begin, Ariel Sharon e Iitzhak Rabin.
Os novos de Israel tem uma herança bendita. Cabe a eles preservar os ideais que orientaram os pais da pátria.
O século passado, século de duas guerras sangrentas, é pródigo em personalidades que envelheceram com dignidade.
Começando por Konrad Adenauer, o reconstrutor da Alemanha destroçada e dividida, Eisenhower, general comandante das forças aliadas e depois presidente dos USA, Charles de Gaulle e o maior de todos: Winston Churchill.
Todos passaram por agruras e dificuldades, lutaram por ideias e souberam levar a bom termo a tarefa de preservar valores e honrar as suas pátrias. Um século de gente ímpar, para o bem ou para o mal.
Fiquemos nos bons. Os maus, ou morreram cedo ou tiveram um ocaso triste e solitário. Não souberam envelhecer. A velhice, quando não é aceita, torna-se ridícula. Exemplo notório é o de Juan Domingo Peron, ditador argentino que pintava os cabelos escassos, se tratava com a doutora Ana Aslan, uma romena que aplicava injeções de placenta humana nos macróbios em busca da fonte da juventude.
Da estirpe de ditadores, o rol de ridículos é enorme. Fiquemos com Peron, um digno exemplar da velhice ridícula.
No Brasil, tivemos vários. Começando com Luiz Carlos Prestes, e outros comunistas que sempre cismaram em não morrer, vamos chegar até José Sarney, escritor de livros nunca lidos e outros políticos da mesma lavra, com cabelos pretos como asa de barata ou pintados de acaju ou louro desbotado.
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente, soube envelhecer com dignidade. É somente um ex-presidente, a exemplo dos americanos do norte, que depois de exercerem a mais alta posição do país, se retiram e tornam-se reserva moral.
Eu ia me esquecendo: o mais ridículo de todos está em Cuba. Fidel Castro tem noventa anos. Exemplar único, personificação viva da figura retratada por seu amigo "Gabo" Márquez no romance "O outono do patriarca". De líder mundial, transformou-se em garoto propaganda da Adidas.
Triste fim do libertador da América Latina. Que sirva de exemplo para seu amigo e camarada Luís Inácio Lula da Silva.
Se o álcool não o liquidar primeiro, será um candidato imbatível para uma velhice ridícula e inglória.
Notas:
1) Já que falamos em placenta, corre a notícia de que filha de Gilberto Gil, Bela Gil, ingeriu a placenta de seu filho recém-nascido. Nada demais. Pior seria se criasse a placenta e ingerisse o menino.
2) De Winston Churchill: "Se Hitler invadisse o inferno eu faria uma moção de apoio ao diabo na Câmara dos Comuns."
3) Ainda de Churchill para os petistas: "Uma mentira da volta ao mundo, antes mesmo da verdade ter tempo de se vestir".
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