Durante 12 meses a maioria dos habitantes do planeta Terra de uma forma ou de outra acompanha com dedicação ou com desprezo as eleições americanas. Na madrugada desta Terça-Feira vamos saber quem será o 58o Presidente da maior potência do planeta.
Diversos “Impérios e Culturas" se perpetuaram por mais de 200 anos. Gregos, Romanos, Otomanos, Bizantinos, Kushans na India ou Mings na China. Em algumas destas “nações” a democracia foi exercida. Na Grécia o ápice da democracia aconteceu no século 4 AC. Provavelmente entre 460 AC e 320 AC (140 anos) cidadãos nascidos na Grécia votavam. A maioria dos anos de Ouro tiveram como líder, Pericles. Mas com a Guerra do Peloponeso e morte de Alexandre em 323 AC a democracia Grega entrou em decadência.
Em sua grande maioria Reis, Rainhas, Imperadores e conquistadores subiam ao posto maior do “Estado” pela força ou de forma hereditária. Das poucas culturas que tiveram algum tipo de eleições, nenhuma foi completamente popular. Na maioria de forma indireta, por Senadores, Membros do “House of Commons” ou por bruxas lendo em Folhas de Chá, a decisão sobre o próximo líder acontecia.
Contudo, invariavelmente, mesmo eleito de forma democrática, com o passar do tempo, aos poucos ou de forma abrupta, este líder entrava em um dilema existencial e a fome de mais poder “gerava” um novo Imperador, Ditador ou ambos. Destruindo as estatísticas e proporcionando um possível novo doutorado em Harvard.
Sei que estão pensando…“The Great Britain” é a democracia mais antiga. Não. Somente em 1832 as reformas constitucionais no Reino Unido começaram a acontecer. Na verdade 1867 foi o ano em que aproximadamente 1 milhão de eleitores votaram para o parlamento.
No caso dos EUA, já são quase 230 anos de eleições democráticas populares consecutivas. A primeira, que quase todo Brasileiro que não fez as provas do ENEM deve saber, ocorreu logo após a homologação da 1a constituição em 1789. George Washington foi “eleito” como 1o Presidente e John Adam, segundo lugar no pleito, 1o Vice-Presidente.
Em 1792, a dupla George/Adams foi novamente eleita. Desta vez para valer, tivemos até um 3o lugar “George Clinton” (que não é parente dos Clintons de hoje). Depois deste inicio a partir de 1792, e a cada 4 anos, invariavelmente, ininterruptamente, os Americanos do Norte exercem o direito ao voto presidencial.
Nos 224 anos de eleições, queiram os críticos ou não, os “Yankees” chegam a um número marcante na história da humanidade. No início apenas uma pequena parte da população votava. Com o tempo, evoluíram e hoje até muçulmanos, negros, pobres conseguem com alguma dificuldade votar… Não foi fácil chegar até aqui. E parece que está cada vez mais difícil de manter a democracia americana funcionando.
Apesar das dificuldades, em menos de dois dias, deveremos receber via Twitter ou via implante Bluetooth no cérebro, a confirmação de que Hillary Clinton será a primeira mulher a assumir a presidência dos EUA. Hillary, caso um meteoro não caia em sua casa no Arkansas, destruindo seu servidor privado de e-mail, e também sua vida, será proclamada presidente no dia 18 de Janeiro de 2017. Ela se mudará com o insaciável Bill, mais uma vez para o endereço, 1600 Pennsylvania Ave NW, onde iniciará seu prometido governo progressivo.
No salão oval ela poderá desenvolver uma nova onda de movimento civil ou “Civil Rights”. Iniciado em 1954, o 1o “Civil Right Act” ou Lei dos Direitos Civis foi assinada em 1957 pelo presidente Eisenhower. Esta lei iniciou o processo de diminuição da segregação racial nos EUA. O 1o ato autorizava estudantes negros a frequentar as mesmas escolas públicas que brancos frequentavam. Em 1960 novamente Eisenhower assinou o 2o Ato que corrigia falhas e criava regras para possibilitar eleitores Negros e de descendência Latina a votar. Com penalidades definidas caso alguém tentasse obstruir a votação.
O presidente Kennedy e Dr. Martin Luther King Jr. trabalharam no 3o e mais abrangente Ato a partir do inicio do seu mandato. O 3o Ato instituía regras com foco em eliminar e punir discriminação baseada em raça, cor, religião, sexo ou nacionalidade de origem. A lei já estava no Congresso Nacional quando em Novembro de 1963 Kennedy foi assasinado em Dallas. No mesmo dia, o vice presidente Lyndon Jonhson assumiu a presidência dentro do avião “Air Force One”. Ao seu lado estava Jackie Kennedy que ainda chorava a morte do marido. Jonhson teve que usar de muita experiência política e “ajuda” externa do Dr. King para finalmente no dia 2 de Julho de 1964 assinar o 3o Ato após a votação no Senado federal.
A HBO produziu um excelente filme/documentário chamado “All the way” que mostra a longa e complexa negociação e assinatura do “Civil Right Act” de 1964. Este ato não mudou apenas a America. Mudou o mundo para sempre. http://www.hbo.com/movies/all-the-way
Johnson é pouco conhecido. Talvez devido a força que Kennedy tinha na mídia. Mas Johnson foi além. Em 1965 assinou o importante “Voting Right Act” que proibiu a discriminação racial durante eleições. Assegurando o direito de voto e a participação de minorias em todo o País nas urnas. Pouco antes do final do seu “segundo” termo presidencial, em Abril de 1968, assinou mais dois atos conhecidos como “Fair Housing Act” e “Indian Civil Rights”. Proibindo e punindo discriminação na venda, aluguel ou financiamento de imóveis baseado em raça, religião, nacionalidade de origem. A partir de 1974 o termo género foi adicionado ao ato e em 1988 a proteção contra discriminação de pessoas ou famílias que possuem membros com deficiência física ou mental também foi incluída.
Entramos em um novo século e vemos os atos da década de 60 perderem força com o passar do tempo. Como no passado, ditadores rondam a democracia. Donalds gritam contra minorias, contra mulheres, contra imigrantes, contra qualquer coisa que seja diferente do que ele imagina ser “Americano”. O New York Times publicou um artigo onde prova que a empresa de Donald discriminava negros que tentavam alugar seus apartamentos em New York. http://www.nytimes.com/2016/08/28/us/politics/donald-trump-housing-race.html?_r=0
Não faltam exemplos na história. Desde o início dos tempos vivemos e observamos guerras para obter conquistas sociais. Não ocorre de uma forma linear ou organizada. Diferentes territórios desenvolveram em velocidades distintas. Mas é inegável a evolução da sociedade na maioria dos países. Donald, como Hillary gosta de chamar Trump, não percebeu que o mundo está mudado. Vivemos interligados. Branco é negro. Negro é amarelo. Todos somos iguais. “SnapChat” é o aplicativo preferido dos jovens. Não é fácil de saber porque existe. Nem por isso temos que destrui-lo. Abaixo um link tentando explicar o que é SnapChat e como usar…boa sorte) https://www.yahoo.com/tech/now-i-get-it-snapchat-201019331.html
Hillary sabe que a hora é de revitalizar os “Civil Rights”. Apesar dos dias conturbados na década de 60 avanços foram possíveis. Se eleita ela poderá iniciar uma próspera onda de mudanças sociais. Implementando e ajustado os atos aprovados com sangue, suor e lagrimas. Revivendo a grandiosa luta promovida pelo Nobel da Paz de 1964, Prof. Martin Luther King. Hillary se posiciona com o slogan “Strong Together” que já antecipa a tendência.
Seu foco e determinação ajudou a derrotar o mais sujo e perigoso adversário. Mr. “Strange” Donald J. Trump. Um ser amarelo que embranqueceu durante a campanha e que se mostrou descontrolado nos debates e na sua vida pessoal.
Junto com Trump temos milhões de eleitores americanos. Em sua grande maioria adultos acima de 50 anos acuados e medrosos que tentam reviver um passado racista e anti-democrático. Claro que existem problemas graves e crises pelo mundo a fora que Hillary terá que ajudar a solucionar. Sejam refugiados, mudanças climáticas, automatização, aumento da pobreza e outras desgraceiras. Estas coisas que mantém a CNN e outras redes de notícias “torcendo” para mais uma bomba destruir um novo shopping center em New Hampshire ou Nebraska.
Depois de meses de campanha chegamos ao dia D. Agora não adianta mais falar mentiras. Tentar ganhar votos mostrando preferencias sexuais ou definir candidato devido ao tamanho das mãos. A pergunta mais ouvida nestas eleições foi: “E se o Donald ganhar?”
Ele não deve ganhar, mas se ganhar, uma coisa com certeza acontecerá. Retrocesso social.
Por isso vencer a última barreira de racismo e intolerância nos EUA será o que lembraremos daqui mais 200 anos. O grande desafio das eleições de 2016 é manter democrática a democracia de maior longevidade na história do mundo.
Estamos aguardando pela Quarta-Feira. Estamos aguardando pela primeira mulher presidente em 227 anos. Estamos aguardando um mandato progressivo. Estamos aguardando a continuidade da democracia nos Estados Unidos da America.