Arthur Lopes e Alegria dos Hipocondríacos

Ruy Escobar e Paulo Elísio eram amigos desde a adolescência, tinham hábitos absolutamente iguais, lavar as mãos com sabão de soda pelo menos dez vezes no dia. Não servia ser sabão de coco, não confiavam na limpeza. Se a vida muito lhes ensinava, eram brilhantes nos estudos, mas mais que tudo lhes ensinava manter a limpeza a qualquer custo. 

Perderam muitas namoradas, elas queriam ser beijadas e eles ficavam na dúvida se haviam escovado os dentes. Uma mais afoita não se sabe se com o Ruy ou com o Paulo, quis ter seu segredo acarinhado e na dúvida se ela sabia bem lavar tão precioso órgão, a oferta foi recusada e o namoro foi terminado. 

Tinham o frequente hábito “do pecado solitário”, pois repetiam convictos para si mesmos: “ – Tudo é meu, a mão também, a limpeza está assegurada.” Em época que todos se perdiam aos quinze anos, eles não passavam nem de bicicleta, na rua da Zona Boêmia. 

Foi quando já com 19 anos, conheceram Suélio também atirador do Tiro de Guerra e que lavava as mãos com sabão de soda, onze vezes ao dia. Bom atirador, elogiado pelo Sargento, numa noite de guarda na sede do Tiro com os dois companheiros, ficou sabendo do frequente hábito deles e contou-lhes um segredo. Havia inventado o “sexo atleta” e conseguira que “uma das meninas de Dona Loura” aceitasse. “É uma mulatinha muito bonitinha, gordinha e alegre, que fica rindo de mim, mas me leva à loucura. 

Primeiro ela lava sua parte bem lavada na minha presença, depois deita e passa vaselina no lugar certo. Eu fico por cima apoiado nos cotovelos e nos joelhos, de tal forma que consigo enfiar nela meu encamisado sem nenhum outro contato. Ela faz volteios dizendo que é no coqueiro e eu grito na hora do bem-bom. É uma graça de mulher, essa Edite.” Ruy foi o primeiro a se armar de coragem, já não era “glorioso no pecado solitário” como antigamente foi o que pensou. Começou a treinar se apoiar nos cotovelos e nos joelhos, depois de dez dias se julgou pronto para a ginástica. Suélio avisou Edite e marcaram uma segunda feira, dia de muito pouco movimento.

Na entrada do quarto Ruy tremeu um pouco, mas Edite jeitosa foi conversando e fazendo a cuidadosa ablução, ao chegar na vaselina ele já estava pelado. E começaram com a ginástica, ela encaminhou o encamisado dele que estava muito temeroso de encostar em qualquer outra parte. Ela caprichou e quando chegado o bem-bom ele perdeu o equilíbrio e caiu em cima dela. E foi tão bom que de lá não saiu, babou-se todo. Gritou de alegria “gente, é a melhor coisa do mundo que tempo eu perdi.” 

Hoje é “freguês de caderno” não só na segunda, mas também na quarta. Não gosta da sexta, a fila é de muita gente. Dizem que parou de lavar as mãos com sabão de soda, usa agora somente sabão de coco mesmo assim em no máximo 3 lavagens por dia.

Paulo Elísio nunca teve coragem de procurar Edite, nos exercícios não conseguiu se equilibrar nos cotovelos e joelhos. Dizem quando se casou, na noite de núpcias, pois sempre adiou o bem-bom, lavou tanto o recato do entrecoxas da noiva que ela ameaçou ir embora para a casa dos pais. 
Continua cauteloso, “bem-bom” somente aos sábados. Mas também mudou para sabão de coco na lavagem das mãos, diminuiu para 8 vezes por dia. É o que se conta.


Arthur Lopes Filho