Com Mel e Ternura - Crônica "Estado de Minas" - 10/11/2016 - Mário Ribeiro

Com sua simpatia inata, Terezinha sai da cozinha com uma garrafa plástica nas mãos para dizer (com surpreendente e inusual verbo) que o mel endurou.

Fui ao dicionário ver se o verbo existia e lá está: “endurar, endurecer, enrijecer, tornar duro”. Daí, enduro, concluí.

Aquilo endurou de vez minha cuca e, passado o trauma de minha ignorância vernacular, fiquei feliz de Terezinha ter valorizado o verbo em questão.

Apesar de muita coisa ter-se relaxado nesse mundo em constante desvario, parece que outro tanto tem endurado.

Notícias veiculadas nos meios de comunicação, cada vez mais numerosos em razão dos recursos tecnológicos, informam que muitos paises nos confins do mundo – se é que ainda existem confins no mundo - não param de endurar em suas ideologias políticas, inclusive em democracias consideradas exemplares.

Assim como Che Guevara pregou em suas guerrilhas que se endurecesse (e não “endurasse") com ternura, ainda hoje aqui e ali aparecem Trumps da vida prometendo endurar métodos e políticas públicas.

Não será surpresa se fotografias de pedestres em corre- corre constante pelas ruas e avenidas mostrar grande número de fisionomias enduradas por conta desses tempos bipolares de modernismos e atrasos.

Triste é pensar que pessoas, seitas e Estados estejam cada vez mais endurando a vida, religiões e políticas.

Mas bom mesmo é saber que Terezinha, em sua alegria, nunca irá endurecer, ou melhor, endurar seu sorriso e seus sentimentos.


Mário Ribeiro