Razão ou loucura? Crônica publicada no "Estado de Minas" em 16/11/2016 - Mário Ribeiro

Eu pensava que meu amigo ex-doido havia sido internado em algum nosocômio destinado a pessoas com parafusos mentais desajustados.

Injustiça minha porque, felizmente, a moderna ciência para estes casos acabou com as antigas aberrações de enclausurar pessoas com problemas psíquicos.

Assim, depois de longo e tenebroso inverno, eu encontrava meu amigo no meio da chuva fria portando uma capa de plástico que não cobria totalmente a sua cabeça sempre efervescente.

Com a cabeça e o rosto ensopados pela chuvinha inclemente, ele abriu um sorriso de felicidade pelo reencontro depois de tanto tempo sem nos ver.

Excitado como sempre, meu amigo ex-louco não se continha de alegria e logo em seguida revelou que estava naquela felicidade contagiante por causa da polêmica eleição de Donald Trump para presidir a mais poderosa nação do mundo moderno.

Não resisti e retruquei:

- Pelo jeito teremos de internar você no nosocômio antigo. Afinal, como uma pessoa como você tem a coragem de expressar apoio a um cara que todos consideram um louco como presidente da maior potência mundial, os Estados Unidos? - repreendi-o.

Ele não levou a sério minhas palavras. Ao contrário, expunha um sorriso ainda mais expressivo de felicidade.

Tanto se mostrava encantado com o resultado das eleições americanas que para completar se saiu com esta:

- Você queria quem para assumir o cargo? Ora, só um cara com alguns parafusos frouxos na cabeça para colocar as coisas nos eixos na terra de Tio Sam. Aquilo lá virou uma bagunça dos diabos… Quem sabe um cara meio doido consiga arrumar a casa?

Coloquei um fim ao papo: quando pessoas assumem posições radicais, melhor deixar que eles quebrem a cabeça, embora sempre fique a dúvida:

- E se o doido estiver com a razão?



Mário Ribeiro