A frase é a seguinte: "política é igual nuvem, muda de acordo com o vento". Nada mais verdadeiro, principalmente se o país estiver no terceiro mundo (isso ainda existe).
Em pouco tempo tudo muda. Quem estava na crista da onda, cai em desgraça, o desgraçado passa a dar as cartas.
Voltemos a Tancredo e Magalhães. Tancredo saiu da campanha derrotado, falido e sem perspectivas. Magalhães era o rei da cocada preta. Surfava na vitória própria e na vitória avassaladora de Jânio Quadros. Pouco tempo depois, Janio, o bêbado, renúncia. Tancredo é indicado Primeiro Ministro. Uma emenda tosca, costurada às pressas para contentar os militares e dar posse a Jango Goulart, o expert em pernas de vedetes de teatro rebolado.
Tancredo, querendo ou não, foi o primeiro Primeiro Ministro do Brasil, no regime republicano. Ficou na História.
Magalhães Pinto, assim como Tancredo, acalentava o sonho de ser presidente da República. Foi o líder civil da Revolução de 1964. Continuou acalentando o seu sonho.
Teve um AVC, ficou totalmente abobado e morreu pensando que era presidente e dono de um grande banco. Na presidência, em vinte anos, só militares. O seu banco, estava falido, vítima de contabilidade criativa de seus filhos.
Tancredo chegou lá . Chegou mas não levou. Na véspera foi operado. Um espetáculo digno de ópera bufa. Contam que na sala de cirurgia do malfadado Hospital de Base deBrasília, tinha cadeiras "VIP", arquibancada e geral.
Deu no que deu. Mataram o velhinho e no seu lugar botaram o Sarney, escritor de muitos livros e poucos leitores. Um dos livros, de título " O Senhor do mar", dizem que deveria chamar-se "O Senhor do Maranhão ". Não coube na capa.
As nuvens continuaram a se mexer. Sarney foi do céu ao inferno em pouco tempo. Com o seu plano homônimo, foi ao céu. Infelizmente, esqueceram de combinar com os russos. Faltou carne. Polícia federal no pasto a caçar boi gordo. Todo mundo queria ser fiscal do Sarney.
O Brasil acordou patriota. Deu tudo errado: hiperinflação, troca de ministros da Fazenda como se troca de cueca. Sarney sai execrado, com dores na coluna, apanhando mais do que "sparring" de Mike Tyson.
Eleições diretas. Nove candidatos. Para todos os gostos. Sobram dois, para tristeza de Brizolla, outro eterno candidato.
Ganha o "Caçador de Marajas", batendo por pontos o metalúrgico raivoso.
Mais aventuras. Poupança sequestrada, todo mundo sem dinheiro, novos planos econômicos e novos aventureiros no comando da Grande República Bananeira.
A aventura dura pouco tempo. Impeachment, coisa nova no pedaço . Nuvem negra sobre a República das Alagoas.
Cai Collor, Zélia se casa com Chico Anisio, o único humorísta do mundo a desposar uma anedota, PC Farias é assassinado por sua amante.
Para quem não acredita, tal versão foi dada pelo prof. Fortunato Badan Palhares. Assassinato, seguido de suicídio.
E as nuvens vão se movendo.
Seja de Tancredo ou de Magalhães Pinto, um dos homens mais feios que já conheci, economista formado em um tempo em que tal curso não existia no Brasil, a frase é muito boa. Política e como nuvem: muda com o vento. E rapidamente. Muda tanto que este texto terá sequência.
Em tempo: por não existir o curso, Magalhães foi o único economista de sua turma. Não teve colegas. De sua escola saiu formado em quase nada José Aparecido de Oliveira, tido como o melhor mineiro do mundo. Imagine então o pior.
Deve ser o próprio coisa ruim!!!!
Notas:
1) De José Simão: a contenção de gastos no Rio de Janeiro bateu tão braba que o governador Pesão deixou de calçar quarenta e quatro. Baixou para trinta e sete.
2) Leio em uma revista antiga uma seleção de leis esdrúxulas. No Estado de Ohio (deveria ser O Raio!) é proibido embriagar peixes. Na Inglaterra é proibido morrer no parlamento. Na França é proibido batizar os porcos com o nome de Napoleão e na Indonésia, masturbação pode dar pena de decapitação. Da cabeça de cima mesmo.
Os personagens do meu vizinho de "blog", Arthur Lopes", estariam perdidos.
Urtigão ( desde 1943)