Morreu Fidel Castro Ruz. Funeral de nove dias, percorrendo Cuba de ponta a ponta. Não é muito. De Havana a Santiago, novecentos quilômetros. Para sua tristeza, morreu na "black friday". Até que enfim, rendeu-se ao capitalismo.
Percorrer Cuba de ponta a ponta não traz ineditismo. O cadáver de Abraham Lincoln, ainda no século dezenove, fez o mesmo, de ferrovia, passando por diversas bitolas. Não as cinzas. O cadáver do lenhador assassinado no Teatro Ford em Washington.
De Fidel, desconfio que as cinzas são só dos charutos que fumou em vida. Já estava morto há muito. Um "coma andante", garoto propaganda da Adidas, sempre metido numa roupa esportiva, a simular um espantalho de atleta.
Infelizmente, fez muito mal a humanidade. Sobretudo à "América Latrina" onde influenciou gerações por mais de meio século.
Da Europa do "wellfare state", com os seus intelectuais de esquerda, colhia admiração e afagos generosos . De lá, os ventos de uma esquerda bafejada pela incapacidade de enxergar o óbvio, louvavam o Comandante e seus barbudos, entre eles o ícone da revolução, o homem que odiava banho, odiava trabalhar e amava executar inimigos de mãos amarradas.
Ernesto “Che" Guevara, transcendeu a Cuba, a Argentina e ao século vinte. Um perdedor nato, surrado e humilhado na África e na Bolívia, onde foi morto com desonra, magro, sujo e fedorento.
Fidel foi mais esperto. Depois dos arroubos da juventude e do episódio malogrado de John Kennedy e os cubanos na invasão da Bahia dos Porcos, adquiriu "status de herói. Heroísmo que quase levou o mundo a uma guerra nuclear. O barbudo de Sierra Maestra estava disposto a sacrificar sua ilha e seu povo em troca de um conflito de proporções inimagináveis entre Rússia e Estados Unidos.
Felizmente, Nikita Kruschev retrocedeu e o mundo respirou aliviado. Prevaleceu o bom senso.
O apoio a Fidel Castro custou muito caro à Rússia Soviética, cerca de quatro bilhões de dólares ao ano, de 1961 até 1989, com a dissolução da União Soviética.
Cuba, que vivia de favores do irmão comunista, passou fome e se agarrava na falácia do bloqueio americano e na sua resistência à tirania ao imperialismo. Conversa fiada. Sempre houve algum comércio bilateral e a remessa de dólares de cubanos exilados nos USA sempre foi vital para a ilha caribenha.
Entretanto fazia bem continuar apregoando a resistência a "Tio Sam". Como sempre existem idiotas para comprarem falsas ideologias e o Comandante Hugo Chavez fez de Fidel o seu ídolo, ao lado de Simon Bolívar. Passou a dar petróleo de graça para Cuba e a médicos cubanos. Tratou de câncer por lá e morreu.
Fidel ficou doente em 2006 e passou o bastão para seu irmão Raúl. Mais do mesmo. Cuba nos tempos de Fulgencio Batista tinha o maior PIB per capita da América Latina. Hoje, sem dúvida tem saúde de graça e erradicou o analfabetismo. A ilha é um museu a céu aberto. Quem quiser voltar aos anos cinquenta, basta ir até lá.
Uma pena que antes de Fidel, não estava tão sucateada .
Hoje, passados quase sessenta anos, é uma sombra do passado.
Notas:
1) O episódio que narro abaixo é verdadeiro. Em 1990 organizei um Congresso de Controle de Infecções Hospitalares em Belo Horizonte.
Um evento de sucesso que teve a presidência de Carlos Starling, médico mineiro, grande autoridade no assunto. Convidados dos USA, e não sei por que cargas d'agua, uma convidada de Cuba. Se não me engano seu nome era Isabel Gonzalez.
Pedimos autorização à Embaixada e cumprimos todos os trâmites legais. A Embaixada autorizou a vinda da médica e nos mandou uma bandeira do País para ser colocada no palco, junto das outras. Passagem aérea da Cubana de Aviacion, com escala no México. Até hoje esperamos a doutora que, ao se ver no México, escafedeu-se. Entrei em contato com a Embaixada para devolver a bandeira. Desconheceram o assunto.
2) Dizem que Fidel Castro chegou ao inferno e se encontrou com Ronald Reagan e Boris Yeltsin. O "Coisa Ruim" concedeu aos três o direito de uma ligação telefônica para casa na terra. Reagan teve de pagar dez mil dólares. Yeltsin pagou o mesmo. Fidel pagou somente dois pesos cubanos. Reagan e Yeltsin reclamaram. O Diabo explicou: a ligação dele era local.
Urtigão (desde 1943)