Urtigão: Uma Polêmica Estéril e a Verdade dos Fatos

Grigori Perelman tentando provar que o Kalil foi a melhor solução...
Ontem à noite enviei um e-mail para um amigo cumprimentando-o pela vitória colhida pelo seu candidato nas eleições municipais.

Ele estava eufórico. Afinal, empunhou a bandeira do futuro prefeito, divulgou seu voto na internet e fez campanha contra o adversário.

Vitória inconteste, com merecidos cumprimentos.

Pensei que ficaria somente nisso. Que nada.

A euforia ainda reinava e a resposta veio efusiva, citando fatos e situações narradas na imprensa. Acusou-me injustamente de odiar o diário que publicara a reportagem sobre o vencedor. Entre criticar e odiar, como argumentei, vai uma distância medida em anos luz.

A polêmica rendeu. Coisa educada de dois velhos turrões, cada qual defendendo o seu ponto de vista que no frigir dos ovos pouco ou nada acrescenta para qualquer um deles e tampouco para o pseudo-odiado.

Foram quatro ou cinco e-mails, enviados com rapidez e eficiência, se é que datilografar com dois dedos seja prova de proficiência nos antigos cursos de datilografia.

Por fim, de minha parte, dada a irrelevância da refrega cibernética, joguei a toalha. Disse-lhe que melhor seria deixarmos de lado a questão, tendo em vista que estávamos discutindo a quadratura do círculo ou, quem sabe, o sempre impossível moto-perpétuo. Se ainda tivéssemos discutindo sobre a resolução da Conjectura de Poincaré, problema matemático que perdurou por cento e três anos e teve no russo Grigori Perelman o seu resolvedor, ótimo. Individuo estranho esse russo.

Misantropo é o próprio Urtigão.

Pouco conhecido. Menos visto ainda. Recusou a Medalha Fields, honraria máxima da ciência que pratica e mais, recusou também o prêmio Millenium. Além das honrarias, deixou de lado a bagatela de US$1,5 milhão de dólares. Para ele basta a matemática. O resto é irrelevante. Sem contar que os seus colegas matemáticos levaram mais três anos para entender o seu raciocínio para chegar na solução do problema formulado pelo francês em 1900.

Se ainda discutíssemos sobre "Sistemas Dinâmicos", fatos matemáticos que deram a Medalha Fields ao brasileiro Artur Ávila, a polêmica estaria mais adequada. Na teoria dos sistemas dinâmicos, pôde-se compreender porque uma bola de futebol muda de forma ao ser chutada com mais ou menos força durante o jogo. Mais palatável para mim, péssimo aluno de matemática e avesso ao esporte bretão.

Para o meu amigo seria um prato cheio. Atleticano doente, conselheiro do Atlético e eleitor de Kalil, certamente me daria uma aula. Se não sobre Sistemas Dinâmicos, sobre futebol e seu time do coração.

De toda forma eu joguei a toalha. Afinal, ele é o titular desse blog e se me arrisco, podia perder o emprego.

Em sua última mensagem ele disse-me que da discussão nasce a luz.

E eu, humilde perdedor, temeroso em perder o emprego e mais ainda, em perder o amigo, respondi-lhe: de mim, só espere luz de candeeiro ou de lamparina. Nem lâmpada incandescente, já tirada do mercado, depois de mais de cem anos de bons serviços, eu uso mais como clarabóia para meu espírito.

Uma nota:
No meu sentir, de uma polêmica estéril entre dois velhos turrões, somente pode restar provada a quarta e quase desconhecida Lei de Newton: "o último pingo é sempre da cueca"



Urtigão (desde 1943)