Rosa - Arthur Lopes Filho

Teu corpo é tudo o que brilha, 
Teu corpo é tudo o que cheira... 
Rosa, flor de laranjeira...

"Manoel Bandeira, poeta federal"


Foi quando um dia eu, menino já adolescendo, andei por cima do muro e olhei quem tomava banho. Rosa que trabalhava na casa de meu avô. Foi mesmo no instante em que ensaboava sua borboleta de sonho. Seus seios apontaram o horizonte de desejo que me vi possuído. 

Quase a vertigem me fez cair do muro, mas o meu desejo e o cheiro da Rosa me deram o desvario que susteve meu corpo.

Rosa me viu e sorriu.

Mostrou sua borboleta ensaboada que a água lavava com volúpia. Passou suas mãos pelos belos seios e jogou-me um beijo.

Completamente desatinado eu decidi pular pela janela do banheiro. Foi quando ouvi minha mãe gritando da ponta do beco:

”Desce já daí menino, se você cair do muro vai se machucar! Desce já”.

Obedeci mas inundado de sentimento do desejo. Não deu nem para voltar, minha mãe me fez ir à padaria comprar o pão para o lanche da tarde. Quando cheguei, Rosa já vestida, fazia o leite ferver no fogão de lenha.

Minha vingança é que no percurso do retorno, havia cuspido em cada pão que buscara.

Jurei que um dia haveria de acariciar a borboleta de sonho e beijar os seios de Rosa que eu sabia ter cheiro de flor de laranjeira.


Arthur Lopes Filho