Geraldo Pelanca, apelido dado ao coitado por ser muito magro - diriam até “pele e osso” - mas os companheiros da infância preferiam Pelanca.
Quem diria… passou o tempo. Engordou e virou “bicheiro”. Por ser sortudo, sempre vendia jogo que dava nem que fosse uma besteirinha capaz de recuperar o dinheiro.
Havia os azarados que jogavam sempre e nada de ganhar. Ele evitava esses tipos e dizia que estava sem papel ou caneta para anotar o jogo. Que procurassem outro vendedor. Sempre indicava o Chico, de apelido “Bosteiro”, que quando menino caiu de uma árvore e cagou-se todo. Os companheiros implacáveis que tinham posto o apelido do Pelanca, puseram-lhe este apelido. Diziam que também bicheiro nunca vendera qualquer prêmio. Odiava o apelido e o fato de seus “fregueses” nunca acertarem no jogo.
Mas um dia, dois deles acertaram na centena. Menos de um mês depois, um acertou no Milhar. Mais de vinte, na outra semana, acertaram na Dezena.
Passou a ser chamado respeitosamente apenas de Chico, mas um mais gaiato acrescentava bem baixinho “o Fum”. Tinha baixa de audição devido à queda da árvore e nunca ouviu o complemento. Mas pelos recentes acertos dos “fregueses”, passou a disputar a preferência dos habituados na “fezinha”, com o “Pelanca”.
Nunca foram grandes amigos, era o hábito de se chamarem pelos apelidos o que incomodava tanto a um quanto ao outro.
Agora passaram a grandes rivais numa “questão de bolso”. Caiu o ganho de “Pelanca” e aumentou o ganho de “Bosteiro”. Ainda agravado pelo fato de frequentarem a mesma “menina da casa de “Dona Loura”, a muito amável Tiana.
Quando indagada pelos dois, diplomaticamente ela dizia que eles empatavam na “arte da raparigagem”. E era verdade: empatavam por serem péssimos na arte, somente sabiam deitar em cima e logo vinham com o “inhã, inhã, eu morro desgraçada”.
Para ela eram “ótimos”, rápidos e sem volteios, pagavam igual aos outros. E assim pela vida iam se levando, mas chegou um novo Delegado, o Dr. Almir.
Tinha tanto de tamanho quanto de rigidez.
Mandou um aviso para os “bicheiros” que iria prender todos. Cabo Joãozinho foi o portador - e amigo deles acrescentou:
- Cuidado, o home é uma fera.
Passaram a vender bilhetes de loteria sem nenhum êxito. Todos os habituados já eram fregueses de Bazé e Felix, que já haviam vendido até “Sorte Grande”. Somente restou aos dois se mudarem para outra cidade e deixar a vida que eles tanto gostavam. Não mais houve notícias certas deles. Dizem uns afoitos que se casaram e mudaram de profissão, outros que ficaram “bicheiros” até morrer.
Esta é a história que até hoje é contada.
Arthur Lopes Filho
Quem diria… passou o tempo. Engordou e virou “bicheiro”. Por ser sortudo, sempre vendia jogo que dava nem que fosse uma besteirinha capaz de recuperar o dinheiro.
Havia os azarados que jogavam sempre e nada de ganhar. Ele evitava esses tipos e dizia que estava sem papel ou caneta para anotar o jogo. Que procurassem outro vendedor. Sempre indicava o Chico, de apelido “Bosteiro”, que quando menino caiu de uma árvore e cagou-se todo. Os companheiros implacáveis que tinham posto o apelido do Pelanca, puseram-lhe este apelido. Diziam que também bicheiro nunca vendera qualquer prêmio. Odiava o apelido e o fato de seus “fregueses” nunca acertarem no jogo.
Mas um dia, dois deles acertaram na centena. Menos de um mês depois, um acertou no Milhar. Mais de vinte, na outra semana, acertaram na Dezena.
Passou a ser chamado respeitosamente apenas de Chico, mas um mais gaiato acrescentava bem baixinho “o Fum”. Tinha baixa de audição devido à queda da árvore e nunca ouviu o complemento. Mas pelos recentes acertos dos “fregueses”, passou a disputar a preferência dos habituados na “fezinha”, com o “Pelanca”.
Nunca foram grandes amigos, era o hábito de se chamarem pelos apelidos o que incomodava tanto a um quanto ao outro.
Agora passaram a grandes rivais numa “questão de bolso”. Caiu o ganho de “Pelanca” e aumentou o ganho de “Bosteiro”. Ainda agravado pelo fato de frequentarem a mesma “menina da casa de “Dona Loura”, a muito amável Tiana.
Quando indagada pelos dois, diplomaticamente ela dizia que eles empatavam na “arte da raparigagem”. E era verdade: empatavam por serem péssimos na arte, somente sabiam deitar em cima e logo vinham com o “inhã, inhã, eu morro desgraçada”.
Para ela eram “ótimos”, rápidos e sem volteios, pagavam igual aos outros. E assim pela vida iam se levando, mas chegou um novo Delegado, o Dr. Almir.
Tinha tanto de tamanho quanto de rigidez.
Mandou um aviso para os “bicheiros” que iria prender todos. Cabo Joãozinho foi o portador - e amigo deles acrescentou:
- Cuidado, o home é uma fera.
Passaram a vender bilhetes de loteria sem nenhum êxito. Todos os habituados já eram fregueses de Bazé e Felix, que já haviam vendido até “Sorte Grande”. Somente restou aos dois se mudarem para outra cidade e deixar a vida que eles tanto gostavam. Não mais houve notícias certas deles. Dizem uns afoitos que se casaram e mudaram de profissão, outros que ficaram “bicheiros” até morrer.
Esta é a história que até hoje é contada.
Arthur Lopes Filho